Transgênero, Transexualismo e Intersexualismo:

Informações Básicas.

 

Por Lynn Conway

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Copyright @ 2000-2005, Lynn Conway.

Todos os direitos reservados.

 

 

Seção I:

Informações Básicas sobre Gênero e Transgênero

 

Traduzido por

Sonia John

 

 

 Uma foto de Lynn e seu namorado (agora seu marido) Charlie, no verão de 2000.

                                                                                                                                    

 

Através da história de Lynn (Pt) soubemos como foi que ela nasceu e foi criada como um menino, e mais tarde foi transformada numa mulher por meio de tratamentos hormonais e cirurgia extensiva. Devido ao passado dela, Lynn às vezes é chamada de uma mulher "transexual". Porque ocorreu isso à Lynn, e, o que é o transexualismo?

 

Para entender o que é o transexualismo, primeiro devemos responder a algumas perguntas básicas sobre o gênero. O que é a Identidade de Gênero? De onde vem? Quais eventos ocorrem na natureza que interferem com a correta designacão de gênero? O propósito destas páginas é responder a estas perguntas. Em adição fornecemos links para mais informações sobre a identidade de gênero, transgênero, transexualismo e intersexualismo, junto com informações sobre métodos e tecnologia para a modificação física de gênero.

 

Os conhecimentos nesta área se desenvolvem rapidamente. É um desafio definir ou "etiquetar" os diferentes fenômenos, e fazer estimativas da freqüência de que ocorrem. Existem também as diferentes interpretações da ciência, e os diferentes pontos de vista dos protocolos sociais e médicos, em constante desenvolvimento, para resolver estas situações.

 

Porém, se sabe muito mais sobre a identidade de gênero do que se sabia só faz uns poucos anos, e vale muito compartilhar este novo conhecimento e utilizá-lo como plataforma de lançamento. O tabu nesta área também foi rompido e agora podemos falar destes importantes assuntos sem medo, vergonha ou embaraço.

 

Como veremos, muitas mais pessoas sofrem de alguma condição de identidade de gênero do que supúnhamos, e as vidas de milhões são afetadas por assuntos relacionados com a identidade de gênero. A chave para aumentar a qualidade de vida dessas pessoas é um melhor conhecimento sobre o tema e sua ampla difusão.


 

 

Seção I: Informações Básicas sobre Gênero e Transgênero

 

Seção Ia: (TG continuação) (em português)

 

Seção II: Transexualismo (HaM) (em português)

 

Seção III: A vida como uma mulher depois da transição transexual (Ainda só em inglès) 

 

 

 

PÁGINAS COM INFORMAÇÕES ADICIONAIS:

 

 

 Recursos para a Mulher Transexual (em inglés)

 

 Mulheres Transexuais de sucesso (em português)

 

 Cirurgia de Feminilização Facial (em português)

 

 Links informativos TG/TS/IS

 

 Homens Transexuais de sucesso

(em português)

 

 Cirurgia de Redesignação Sexual (SRS) (em português)

 

 

 


 

 

Seção I - Conteúdo:

 

 

 INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE O GÊNERO:

 O que é que nos faz menino ou menina? O que é que determina nossa identidade de gênero?

 Condições Intersexo - Incluindo os bebês cujo gênero é ambíguo ao nascer.

 A prática de "corrigir cirurgicamente" os genitais das crianças intersexo para converti-las em "normais".

 Como estas tentativas de "conserto" revelam que as velhas teorias sobre a formação da identidade de gênero eram erradas.

 Mais lições aportadas pelo intersexualismo sobre a identidade de gênero.

 A teoria de que a identidade de gênero é socialmente construida é finalmente derrubada.

 A teoria de que a auto-percepção inata do gênero está determinada pelo cérebro e pelo Sistema Nervoso Central Pre-natal (SNC).

 

 TRANSGÊNERO:

 Introdução

 

 Acompanhamento e tratamento médico das mulheres transgênero e transexuais.

 Outras condições que em parte coincidem com e são freqüentemente confundidas com transgênero e transexualismo:

 Exemplos: Gays, Drag Queens, transformistas, crossdressers e transvestites, travestis, fetichistas, outros.

 Porque reagem algumas pessoas com tanta hostilidade contra os transgênero?

 Tonalidades cinzentas: Combinações e intergradações de gênero e preferências de parceiro.

 Além das "etiquetas", e em lugar de categorias restritas, propôr modelos de gênero mais inclusivos e flexíveis.

 Seção I continuação - em Seção Ia: (em português)

 O contraste entre a Transição de Gênero (TG) e a Transição de sexo (TS).

 Reconsiderando a discriminação  e os crimes de ódio contra as pessoas transgênero.

 Como a transfóbia, dizemos tristemente, tem sido também freqüentemente projetada por gays, lésbicas e feministas no passado (e como isso está mudando agora).

 Os adolescentes transgênero abandonados por suas famílias.

 Os adolescentes transgênero que recebem o apoio familiar.

 Os riscos que correm os adolescentes transgênero mesmo quando as famílias os apoiam.

 Esforços para fornecer cobertura completa dos direitos humanos às pessoas transgênero.

 Resumo das diferentes situações das pessoas TS e TG em diferentes países.

 O papel poderoso que faz a Internet ajudando as pessoas TS e TG.

 Esperanças para o futuro.

 

 

 

 


 

 

GÊNERO, INFORMAÇÕES BÁSICAS:


 

 

O gênero é uma parte fundamental de nossa identidade como seres humanos. A primeira pergunta que todo o mundo faz sobre nós é “É um menino ou uma menina?"

 

Apesar da importância dele, a maioria das pessoas pensam muito pouco sobre o gênero. Não têm idéia o que é que causa a sensação de ser menino ou menina, homem ou mulher. Sem ter sofrido nunca uma confusão de gênero, eles assumem como um fato o gênero que têm, é tão evidente como o ar que respiram, e não têm motivo para refletir sobre isso. Ter um gênero é um inquestionável privilégio do nascimento.

 

O saber popular considera que do mesmo jeito que os meninos crescem para se converter em homens, as meninas crescem para se converter em mulheres. Só existem duas possibilidades, ou é uma ou outra. Basta com ver o "sexo genital" na hora de nascimento e não tem mais que falar. Porém, como já veremos, as coisas não são tão simples.

 

O que é que nos faz meninos ou meninas? O que é que determina nossa identidade de gênero?

 

Durante a primera fase da gestação, um feto que tem genes masculinos (cromossomos XY) geralmente se desenvolve com genitais masculinos. Desenvolverá-se com genitais femininos se possui genes femininos (XX). Isto ocorre normalmente o 99% das vezes. Os médicos e os pais simplesmente olham os genitais da criatura e a declaram menino ou menina.

 

Aqueles que são identificados como meninos geralmente se desenvolvem como homens com uma identidade de gênero masculina, e aqueles que são identificadas como meninas normalmente crescem como mulheres com uma identidade de gênero feminina. Mais uma vez, tudo parece muito óbvio.

 

No entanto, mais do 5% da totalidade dos homens e mulheres se desenvolverão como homossexuais, e procurarão parceiros de seu mesmo sexo e/ou gênero, mas contudo eles terão uma identidade de gênero normal como homens ou mulheres respectivamente, como a grande maioria dos heterossexuais.

 


 

Estados de Intersexualismo - incluindo bebês que apresentam um sexo ambíguo ao nascer:

 

Apesar de que a maioria das crianças se apresentam como meninos ou meninas normais, várias situações genéticas podem conduzir, em alguns casos, a que apresentem genitais ambíguos, assim que os médicos no estejam seguros de que se tratem de um menino ou de uma menina. Em outros casos os genitais parecem bem definidos de um sexo, mas são incongruentes com os genes da criança. E em mais outros casos os genes da criança são mais complexos do que simplesmente XX ou XY, e o desenvolvimento tanto físico quanto de identidade de gênero da criança será muito difícil de prognosticar. Os meninos que possuem estas variações genitais ou genéticas são chamados de "Intersexuais". Os bebês intersexuais se apresentam aproximadamente em um de cada 1.000 nascimientos.

 

Por exemplo, em aproximadamente um de cada 13.000 nascimientos de uma criança XY (homem genético) o feto não responde aos hormônios fetais masculinos, e desenvolve genitais que parecem às de uma menina, exceto pela ausência de órgãos reprodutivos internos. Estas crianças XY que apresentam o "Síndrome De Completa Insensibilidade Androgênica" (chamado de cAIS ou AIS, pela sigla em inglês: "Complete Androgen Insensitivity Syndrome"), são simplesmente identificadas como meninas e criadas como tais. Embora não pôdem procriar, geralmente se desenvolvem como mulheres esbeltas e atraentes, com uma identidade de gênero feminina. Comenta-se que algumas bonitinhas modelos têm sido meninas AIS.

 

Em outros casos, o "Síndrome De Insensibilidade Androgênica Parcial" (ou, pAIS, pela sigla em inglês: "Partial Androgen Insensitivity Syndrome") tem como resultado que a aparência genital externa pode cair em qualquer lugar do espectro femenino/masculino. (Veja o site web em inglês do Grupo de Apoio ao Síndrome De Insensibilidade Androgênica (AISSG) para mais informação sobre AIS). Incrivelmente, nunca informam a muitas destas meninas de sua verdadeira natureza, já que a família e os médicos sentem pena e embaraço de falar sobre este "terrível segredo"-- que estas meninas têm genes masculinos. Em lugar disso, lhes dizem coisas como "Você nunca desenvolveu órgãos internos, assim que no pode ter filhos", e elas freqüentemente descobrem a verdade sobre si mesmas já na idade adulta e de maneira acidental (como por exemplo a história de Sherri no site de AISSG).

 

Nossa sociedade ignora completamente a existência das meninas cAIS, e isso tem lhes causado muitos problemas. Por exemplo, durante mais de trinta anos o Comitê Olímpico Internacional (IOC) tem efetuado "exames genéticos de gênero" em todas as atletas, para assegurar que fossem "mulheres verdadeiras" (isso foi feito com a intenção de evitar que competissem os chamados casos de "mudança de sexo"). Em um bom número de casos as meninas cAIS foram identificadas por esses exames, e foram etiquetadas como "homens" e desqualificadas da concorrência. Essas foram más interpretações verdadeiramente trágicas, já que a presença do cromossomo "Y" em algumas destas meninas não as convertiu em homens, nem genitalmente nem genericamente, e também não lhes dotou uma força física que possa se considerar uma vantagem. Essas erradas interpretações de gênero muitas vezes foram publicadas, e resultou numa humilhação total para essas mulheres.

Numa significativa retificação dessa política terrível, o IOC abandonou todo tipo de exames de gênero para os jogos olímpicos. Logo, em 17 de maio de 2004 o IOC anunciou que permitirá a participação de mulheres e homens transexuais pós-operados, contanto que cumpram com certas condições, começando com os jogos de 2004. Assim é que finalmente se acabou a discriminação contra a participação de pessoas transexuais e intersexuais nos jogos olímpicos.

Para apreciar um panorama das muitas categorias de condições intersexuais, se pode consultar a página da Associação Norte-americana de Intersexo intitulada "Como Comuns São as Condições Intersexuais?" Para mais informações, veja a página excelente de Wikipedia sobre intersexualismo, onde encontrará links a muitos sites que tratam de distintas condições intersexuais.

  

A existência das crianças intersexo XY (homem genético) que têm genitais femininos e que crescem com uma identidade de gênero feminina (as meninas cAIS), foi um dos muitos fatos que se conheceram cedo e que levaram os científicos a reconhecer que a identidade de gênero NÃO ESTÁ determinada diretamente pela posse de genes XX ou XY. Em lugar disso, propuseram a teoria de que a identidade de gênero era neutra ao nascimiento, e que na infância ceda era determinada pelos genitais e pela criação. O principal defensor dessa teoria era o Dr. John Money da Universidade John Hopkins.

 

De acordo a essa teoria, uma criança que possui uma vagina e criada como uma menina, cresceria com uma identidade de gênero feminina, independente dos genes. De igual maneira, se predizia que uma criança com um pênis e criada como um menino cresceria com uma identidade de gênero masculina normal, também independente dos genes. Se a identidade de gênero do menino(a) não resultasse de acordo a esse esquema, os psicólogos e psiquiatras assumiam que a criação da pessoa resultou "mal" de algum jeito, ou que a criança estava mentalmente perturbado ou delirante (é dizer, “mentalmente doente"). As soluções para qualquer problema de identidade de gênero eram procuradas através da psiquiatria conforme a suposição de que essas "perturbações mentais" podiam se reverter.


 

A prática de "conserto cirúrgico" nos genitais das crianças intersexo para fazer com que fossem "normais":

 

Nos anos sessenta, os avanços da cirurgia plástica combinados com a teoria "Genitais + Criação" da identidade de gênero conduziram aos médicos a recomendar uma cirurgia de "conserto" em muitos tipos de crianças intersexo. A idéia era fazer com que os genitais aparecessem cosmeticamente corretos, sejam de menino ou de menina, e depois educar a criança no gênero “apropriado,” crendo que assim desenvolveria uma identidade de gênero normal e correta.

 

John Money, da universidade Johns Hopkins, quem gradualmente se converteu no porta-voz dominante no relativo a "Estudos de Identidade de Gênero", era o defensor principal destes tratamentos. Sendo um convencido da psicologia condutista, na qual se considera a mente da criança uma lousa branca e sem características inerentes de personalidade, John Money teorizou que a identidade de gênero era exclusivamente o resultado da criação e da socialização.

 

O motivo para efetuar cirurgias de "conserto" nas crianças era resolver a "emergência social" causada pelo nascimiento de bebês intersexuados.  A mera existência na natureza de bebês intersexo quebra nossa rígida dicotomia cultural de gênero: macho/fêmea. Da mesma maneira, a existência destes bebês lança dúvida sobre profundas estruturas religiosas e legais. Tanto os pais quanto os médicos se encontram sujeitos a uma enorme pressão social que lhes exige eliminar estes variantes. John Money trouxe um raciocínio teórico que validava a cirurgia de "conserto", e fez com que "soasse" científico.

 

Devido a que era mais simples "produzir" cirurgicamente uma menina do que um menino, freqüentemente aconteceu que meninos intersexo XY que tinham pênis pequenos ou ausentes, eram convertidos em meninas. O fato de que algum tecido genital sensível se perdesse durante a intervenção não dissaudiu os cirurgiões, já que durante muito tempo nossa sociedade não reconhecia abertamente que as mulheres fossem capazes de ter intensas sensações sexuais nem a capacidade de experimentar orgasmos. Se convertirem um menino em menina, os médicos não se preocupavam de que mais tarde pudesse ter ou não a capacidade de sensações eróticas genitais ou pudesse desfrutar ou não do ato sexual; só se preocupavam de que pudesse funcionar para o prazer do parceiro sexual.

 

As cirurgias nos bebês intersexo se efetuaram desde faz muitos anos até hoje, com uma freqüência no campo de 1 em cada 2.000 nascimentos. Na maioria dos casos essa cirurgia cria meninas. Surpreendentemente, nunca houve um seguimento científico organizado pelos médicos para analizar os resultados dessas cirurgias!

 

Inclusive durante os primeiros anos em que começaram a praticar essas cirurgias, havia pessoas que defendiam cuidado; o mais notável era o jovem pesquisador Milton Diamond, agora um professor da Universidade de Hawaii. Sendo na época um estudante graduado, Diamond fez um audaz desafio às teorias de Money em um artigo em 1959 intitulado "Uma Avaliação Crítica da Ontogenia do Comportamento Sexual Humano". O raciocínio de Diamond estava baseada nas observações dele do comportamento animal. Em adição organizou sob este enfoque "evidências tomadas da biologia, a fisiologia, a psiquiatria, a antropologia e a endocrinologia, para argumentar que a identidade de gênero está profundamente incrustada no cérebro praticamente desde a concepção". (Veja o livro Sexo Trocado, p.44).

 

No entanto, as noções de que "os seres humanos têm avançado mais além das influências da evolução biológica na questão de sexualidade", e que a sexualidade e o gênero eram socialmente construidos, deixaram uma forte impressão na comunidade médica. Sob a influência do "Profeta do Gênero" John Money, essa visão dominou o pensamento psicológico durante as últimas décadas do século XX. As cirurgias de "conserto" foram praticadas em milhares de bebês intersexo durante esse período, e sem nenhum tipo de acompanhamento. Só ao final deste século aconteceu que algumas horríveis perguntas começaram a surgir, já que ocasionalmente alguns seguimentos isolados revelaram que as coisas não tinham resultado tal como John Money tinha predito.


 

Como estes "consertos" revelaram que as velhas teorias de identificação de gênero eram erradas:


Nos anos recentes, muitas pessoas intersexo se encontraram pelo Internet, e começaram a comparar as situações delas. Como resultado, ficou claro para essas pessoas de estado intersexual que na maior parte das vezes as cirurgias de "conserto" no resultaram como prediziam as teorias dos médicos. Em lugar disso, muitos acabaram com uma incapacidade genital causada pelas cirurgias. Muitas também sofreram de transtornos de identidade de gênero, devido à redesignação arbitrária à que foram sujeitadas, porque para os médicos era "mais fácil de fazer cirurgicamente".

 

Devido à pressão dos ativistas intersexuais, especialmente a da recem-formada ISNA, os estudos de seguimento daquelas crianças “cirurgicamente consertadas” finalmente começaram. O primeiro estudo, de 25 crianças geneticamente XY que ao nascer apresentaram ausência de pênis (Síndrome "Extrofia Cloacal") e que foram redesignadas mediante cirurgia e educadas como meninas, revelou que todos os 25 desenvolveram identidades de gênero MASCULINAS.

 

Esses meninos, apesar de ter sido criados como meninas, demonstraram os rudes jogos de meninos pequenos. Na adolescência, cada um deles se rebelou, apesar de toda evidência, contra os genitais femininos e a educação feminina, e todos afirmaram que eram meninos e que queriam ser transformados em tais. Alguns deles desesperadamente procuravam namoradas, mesmo como fariam outros rapazes adolescentes.

 

Em lugar de reverter a identidade de gênero inata e mudar estes meninos em meninas, as cirurgias praticadas durante a infância em realidade os converteram no equivalente de transexuais mulher para homem! Desde então, muitos desses meninos se submeteram a uma redesignação hormonal de gênero mulher para homem. Tragicamente, os efeitos da cirurgia infantil impedem a reconstrução de genitais masculinos e em muitos casos inclusive impedem o prazer de experiências sexuais e o orgasmo.


 

Mais lições do intersexualismo sobre a identidade de gênero:

 

Esses recentes estudos têm lançado dúvidas sobre a maneira total das práticas cirúrgicas nos meninos intersexo.

 

Esses estudos têm revelado uma coisa ainda mais surpreendente: têm virado de avesso a teoria de que a identidade de gênero está determinada pelos genitais e pela educação, causando uma transformação paradigmática no pensamento global da comunidade médica sobre a verdadeira e subjacente natureza da identidade de gênero. A experiência pessoal dos intersexuais que têm vivido diferentes trajetórias de gênero (alguns como meninos "consertados" e outros não) agora está sendo mais amplamente difundida, e está contribuindo a construir um melhor conhecimento das muitas variações da identidade de gênero que são independentes do nosso físico.

 

Por exemplo, em condições intersexuais como o Mosaico-XY de Turner (Mixed Gonadal Dygenesis), uma criança pode apresentar genitais normais ao nascimiento e ser educado como menino, mas ao chegar à puberdade possa não se apresentar uma masculinização e possa persistir uma aparência moderadamente feminina. Esses adolescentes podem enfrentar grandes dificuldades se a condição permanecer sem diagnóstico e/ou não aprenderem das opções apropriadas de tratamento. Se não terem bem-estabelecida uma identidade de gênero masculina, podem enfrentar a decisão difícil de se submeter a um tratamento masculinizante com a testosterona e se converter em homens, ou tomar estrogênios e se submeter à cirurgia genital para se converter em mulheres. Em alguns casos, os adolescentes XY de Turner têm a identidade de gênero feminina, e dado a opção, escolherão se redesignar como mulheres.

 

O artículo "O que é que sabem as crianças?", por Jane Spaulding relata a envolvente história de uma dessas crianças, que foi educada como menino mas que realmente tinha uma identidade de genêro feminina, e de como procurou uma redesignação hormonal e cirúrgica à idade de vinte anos. A existência de casos como esse refuta a teoria proclamada por John Money que os genitais e a criação estabeleçam a identidade de gênero.
 

Jane Spaulding

 

 

Erradamente guiados durante décadas pela teoria de Money, a profissão médica causou a irreversível incapacidade física de milhares e milhares de bebês intersexo. Para conhecer as angustiantes experiências da vida traumática das pessoas intersexuais que foram "consertadas cirurgicamente" na infância, e que cresceram sem que ninguém lhes dissera nunca o que aconteceu, se pode consultar a recente entrevista de Victoria Tilney McDonough a Cheryl Chase em Entre Linhas: Onde se trata o tema das crianças que nasceram intersexuais.


Cheryl foi a Diretora Fundadora da Sociedade Intersexo de Norte-América,
(ISNA, a sigla em inglês), e a primeira líder do movimento para acabar com a vergonha, o sigilo e as indesejadas cirurgias genitais nas pessoas nascidas com anatomia reprodutiva atípica. A ISNA está trabalhando para acabar com a idéia de que o intersexualismo seja uma coisa vergonhosa ou monstruosa. Nos Estados Unidos só, cinco crianças estão submetidas diariamente às perigosas e desnecessárias cirurgias. A sociedade ISNA insta aos médicos a utilizar um modelo de tratamento centrado no paciente, e não no encobrimento. Para um maior aprofundamento nesses temas, veja o documentário do Discovery Channel "É um menino ou uma menina?", produzido com a participação da ISNA.

 

Cheryl Chase, Diretora Fundadora da ISNA

 

"Quando nasce um bebê intersexual, o procedimento de rotina é a prática de cirurgia," afirma Cheryl Chase,

quem foi redesignada cirurgicamente como menina quando tinha 18 meses.

"Os médicos tratam de arrumar o que não seja correto,

logo colocam uma fralda ao bebê, fecham o arquivo, e esquecem dele".


 

A teoria de que a identidade de gênero está determinada socialmente é finalmente deposta:

 

A ruptura com o paradigma de John Money se espalhou rapidamente logo que a comunidade científica se informou de que Money tinha escondido durante muitos anos evidências claras de que as teorias dele estavam erradas. O golpe mortal foi o altamente publicitado caso de "John/Joan" apresentado no livro Sexo Trocado: O menino que foi  educado como menina, por John Colapinto.

 

Décadas atrás, John Money tinha aconselhado aos pais de um menino, que tinha perdido o pênis em um acidente médico, para que o redesignassem cirurgicamente como menina - apoiado pela teoria de que "ela" cresceria de modo de se converter em uma mulher normal em vez de em um "homem anormal". O caso foi muito notável entre os pesquisadores científicos porque o menino tinha nascido com um gêmeo idéntico que servía de comparação no desenvolvimento do gênero. Como primeiro passo o menino foi castrado, lhe retiraram o pouco que ficava do pênis, e depois foi criado como menina. No entanto ainda mostrando a identidade inata de gênero de um menino pequeno, "ela" começou a afirmar que era "na realidade um menino" e se rebelava em contra dos esforços para fazer com que se comportasse como uma menina. Já na puberdade, ainda sem saber da cirurgia infantil, "ela" se resistiu as tentativas dos pais e médicos para feminilizá-la através de estrogênios e cirurgia para lhe construir uma vagina. Eventualmente, se submeteu a uma redesignação, mas para se converter em homem, similarmente ao que faria um transexual mulher para homem. Nesse caso, educar um menino com genitais femininos como uma menina, claramente NÃO modificou o sentimiento inato do menino sobre o verdadeiro gênero dele.

 

Durante muitos anos, John Money continuamente se referiu ao caso de John /Joan como um triunfo, fabricando dados para indicar que o caso tinha sido um "completo sucesso". Money nunca permitiu que ninguém se abordasse Joan para conhecer mais detalhes sobre a vida dela, rogando que todos evitassem contato em nome da "privacidade". Este caso gradualmente se fez tão lendário que se converteu na pedra fundamental da inteira teoria de gênero de Money.


Logo chegaram as daníficas noticias que revelaram que John Money tinha pleno conhecimento de que a redesignação do menino não era nenhúm sucesso. Ainda pior, ele tinha deliberadamente escondido a evidência contrária às teorias durante décadas - décadas quando mais milhares de meninos tinham sido sujeitos a estas cirurgias incapacitantes. Foi o professor Milton Diamond, o cientista que valentemente questionou ao Money décadas antes quando o primeiro era ainda um estudante graduado, quem descobriu o engano.

 

O Professor Diamond sempre tinha suspeitado os resultados obtidos por Money. Durante anos, através de inúmeras pesquisas e artigos, tinha tentado convencer outros a considerar pelo menos a possibilidade de que a identidade de gênero fosse inata. No entanto, os esforços dele não deram certo, devido em grande parte à predominância intelectual de Money no campo.

 

Finalmente, ao início dos 90, Diamond tentou localizar a menina "Joan", quem presumivelmente agora seria uma mulher adulta e cujo caso tinha sido o fundamento da teoria de Money, simplesmente com o desejo de confirmar o que tinha ocorrido. Diamond tropeçou por acaso no incrível fato de que "ela" nunca tinha sentido de nenhum jeito uma mulher e que vivia nessa época como um homem e além disso era casado!*

 

[*Acabou-se a história muito tragicamente.  Embora “John” conseguiu reverter, social e fisicamente, sua redesignação infantil sexual, e se fez um homem, “admitiu ter um núcleo profundíssimo de raiva corrosiva que jamais se extinguiu.  ‘Não se pode escapar nunca do passado’, disse em 2000 ao jornal O Seattle Post-Intelligencer.  ‘Cortaram-me partes do meu corpo e as jogaram à lata de lixo.  Rasgaram-me minha mente’.  “John” se suicidou o 4 de maio de 2004.]


Diamond e um colega, Sigmundson, trabalharam sem descanso para documentar o que tinha ocorrido no caso e publicaram um artigo que descreveu os resultados. A publicação foi tão controversa que muitas revistas científicas simplesmente a rejeitaram, assim tão grande era a influência de Money e do paradigma da identidade de gênero dele. Várias revistas médicas simplesmente não podiam crer a evidência clara colocada frente delas!


O artigo "Redesignação de Sexo ao Nascimiento: Reavaliação das implicações clínicas ao longo prazo" foi finalmente publicado em 1997 pelos Arquivos de Medicina Pediátrica e Adolescente. A reação da mídia e da comunidade médica foi uma verdadeira tormenta diante destas sorpreendentes notícias. John Money foi publicamente exposto por ter falsificado evidências e de ter suprimido evidências contrárias no caso que fundava sua teoria da identidade de gênero. Em 2000 o escritor John Colapinto publicou um relato detalhado da história para difundi-la entre o grande público.

 

 

 

 

A história de John/Joan obteve primeira exposição pública em um artigo publicado por John Colapinto em Rolling Stone (11 Dez 1997) com o título "A verdadeira história de John/Joan". Aqui está um excerto da última página do artigo:


 

" --- Esta história tem abalado até os fundamentos o prédio construido acima das teorias de John Money dos anos 50. E tem exposto uma falha central numa teoria que foi sustentada durante a maior parte do século XX. Foi o Sigmund Freud quem primeiramente afirmou que o sano desenvolvimento psicológico do menino ou da menina se basea em grande medida na presênca ou ausência do pênis--a noção central da teoria do desenvolvimento sexual de Money e a principal razão pelo que John Thiessen foi convertido em menina por defeito. Essa é uma noção que hoje em dia também tem sido lançado em dúvida pela pesquisa neurobiológica que, no ámbito sexual, tem conduzido os cientistas mais destacados à conclusão de que, tal como o Dr. Reiner a declara, "o órgão sexual mais importante não são os genitais, é o cérebro" --- "

 

 

 

John Money, Ph.D.

 

 

"Teórico" do Gênero, afirmava que a identidade era determinada socialmente.

 

Apoiou as teorias por influência pessoal na mídia assim como falsificando e suprimindo dados de pesquisa contrários ao ponto de vista dele.

 

 

Milton Diamond, Ph.D.

 

 

Professor de anatomia e biologia reprodutiva que derrubou a teoria arraigadamente sustentada de Money de que a identidade de gênero é determinada socialmente.

 

O trabalho dele sugere enfáticamente que a identidade de gênero é biologicamente inata.

 

 

 

Desde então, o professor Diamond tem ganhado importantes reconhecimentos pelo seu trabalho. O Diretor do Centro do Pacífico para a Sociedade e o Sexo, na Universidade de Hawaii, tem escrito amplamente sobre temas da identidade de gênero e as intervenções cirúrgicas nas pessoas intersexuais. Recomendo altamente as escritas dele (como por exemplo: Sexo e Gênero são diferentes: Identidade sexual e identidade de gênero sâo diferentes e Um Emergente Dilema Ético e Médico: Devem os Médicos Praticar Redesignación de Sexo aos Infantes com Genitais Ambíguos? ).

 

A refutação das teorias de John Money está finalmente levando a um alteração paradigmática não apenas na comunidade científica mas também na comunidade médica--embora isto ocorre lentamente dado a influência do ponto de vista de Money sobre os médicos "maiores"--e tem conduzido a desafios profissionais e processos contra os cirurgiões tradicionalistas que continuam praticando estas operações genitais nas crianças. Pode-se consultar em especial o artigo recente na Yale Law Review que faz resenha dos nascentes entendimentos dos aspectos médico-legais no campo.

 

 

A teoria de que a auto-percepção inata de gênero está determinada pelo cérebro e pelo sistema nervoso central prenatal:

 

Muito bom, se não são os genes que determinam a identidade de gênero (as meninas cAIS demonstram isto), e se também não são os genitais e a educação que a determinam (os meninos com o síndrome de "Extrofia Cloacal" demonstram isto), então o que é que pode determinar a identidade de gênero de uma pessoa?


Vem crescendo certa evidência de que determinadas
estruturas cerebrais no hipotálamo (na região BSTc) determinam em cada pessoa o núcleo dos sentimentos de gênero e uma identidade de gênero inata. Estas estruturas se "instalam" pre-natalmente nos centros da parte baixa do cérebro e no Sistema Nervoso Central (SNC) durante as etapas cedas da gravidez, e durante um processo de imprimir, no mesmo Sistema Nervoso Central, modulado hormonalmente.

 

Parece que se tais estruturas no cérebro e no SNC do feto são masculinizadas pelos hormônios durante a gravidez ceda, então a criança terá uma auto-percepção e identidade de gênero masculina, independentemente de que os genes ou os genitais sejam masculinos. Se tais estruturas não são masculinizadas nesse período, a criança então terá uma auto-percepção e identidade de gênero femininas, também independentemente dos genes ou genitais. Como acontece no caso das crianças intersexuais, com genitais ambíguos, sem dúvida existem muitos graus de gênero cruzado nas estruturas do cérebro e do SNC, assim que enquanto algumas crianças sofrem uma inversão total de gênero, outras somente sofrem uma inversão parcial.

 

As pesquisas mais recentes revelam que o cérebro começa a se diferenciar nos embriões machos e fêmeas ainda mais cedo, possivelmente antes de que façam efeito os hormônios sexuais embriónicos, e por mecanismos ainda desconhecidos--assim que se pode considerar a identidade de gênero um resultado complexo da interação entre a diferenciação anterior do cérebro e os hormônios embriónicos posteriores.  Para ler mais sobre as últimas pesquisas, veja: "O desenvolvimento do cérebro, o órgão sexual mais importante" na revista Nature, 29 de janeiro de 2004 (Nature 427, p. 390-392).  

 

Assim desse modo, é possível para algumas crianças possuir identidades de gênero inconsistentes com os genes. Nos casos cAIS, por exemplo, as estruturas cerebrais daquelas meninas eram insensíveis aos efeitos masculinizantes da testosterona fetal, da mesma maneira que também foram os genitais. Portanto, desenvolveram estruturas cerebrais e identidades de gênero femininas, apesar de que as crianças foram geneticamente XY.

 

É por isso que também é possível que algumas crianças tenham identidades de gênero inconsistentes com os genitais e a educação. No caso das crianças com síndrome "Extrofia Cloacal" ("micro-pênis"), as estruturas cerebrais e o SNC presumivelemente se masculinizaram sob a influência da testosterona fetal, levando a uma posterior identidade de gênero masculina, apesar de ter sido "transformados cirurgicamente em meninas" e educadas como tais.

 

Os recentes observações sobre esse síndrome estão fazendo um profundo impacto na comunidade de pesquisadores médicos, já que para a ciência de gênero são tão importantes como foi a observaçao das luas de Júpiter pelo Galiléu.

 

Essas são observações dramáticas, sem precedente e irrefutáveis, e causam uma volta no paradigma prévio de pensamento, e ocorre num campo onde havia muita desinformação e tabus. No caso de Galiléu, a volta foi da idéia de um universo terracêntrico a um heliocêntrico. No caso que nos ocupa, foi da teoria da identidade de gênero baseada em "genitais + educação" a uma que baseia a identidade de gênero no "desenvolvimento neurobiológico do sistema nervoso central".

 

As implicações da deslocação desse paradigma são de longo alcance, especialmente para aqueles que sofrem de identidades de gênero "cruzadas". Em lugar de que esses sentimentos de gênero sejam considerados de natureza "psicológica", agora podemos entendê-los como de natureza "neurológica".

 

Deve-se escutar cuidadosamente as conclusões do Dr. William Reiner, M.D., pediatra clínico e pesquisador no hospital John Hopkins, baseadas no trabalho com crianças intersexuais (Reiner ahora é pesquisador de seguimento no síndrome "Extrofia Cloacal"), que agora confirma o seguinte:

 

 

 "No fim das contas, só as crianças mesmas devem identificar quem e o que são. O papel de nós, os pesquisadores, é escutar e aprender. As decisões clínicas não devem estar baseadas em predições anatômicas, nem na "correta" função sexual, também não é uma questão de moral ou de "congruência" social, pelo contrário é questão daquele caminho que seja o mais apropriado para o provável desenvolvimento do padrão psicosexual da criança. Em outras palavras, o órgão que se apresenta como crítico para o desenvolvimento psicosexual e a adaptação, não são os genitais externos, é o cérebro."

 

William Reiner, M.D., Ser Macho ou Fêmea--Essa é a Questão, 151 Arch Pediatr. Adolesc. Med. 225 (1997)].

 
 

É incrível que no passado os psiquiatras tenham ignorado tudo isto, e que durante tanto tempo tenham assumido que a identidade de gênero era neutro ao nascimento e posteriormente estabelecida pelas interações sociais. As pessoas classificadas erradamente de gênero têm relatado durante muito tempo que os problemas delas não surgiam só dos PENSAMENTOS mas também de percepções de gênero "cruzadas" e das SENSAÇÕES CORPORAIS--como as da criança que percebe sensações de gênero que lhe informa como gosta da maneira que o corpo dela se movesse, qual é a resposta ao ser tocada, quão agressiva ou terna se percebe, ou como interage com outras crianças. Então, depois da puberdade, ao começo das sensações sexuais, é  preciso distinguir entre as que sejam masculinas (necessidade de montar e penetrar) ou que sejam femininas (necessidade de ser penetrada e manipulada).

 

A gente não inventa essas sensações sexuais masculinas/ femininas produzidas pelo CNS, simplesmente as experimenta! Os mecanismos básicos de percepção envolvidos estão "integrados" e não podem ser mudados por meios psiquiátricos de maneira permanente mais do que se pode mudar nossa percepção do frio ou do calor.

 

Qualquer seja o processo "em-útero" que as produz, as sensações de gênero e de identidade de gênero da pessoa se encontram no mais fundo do ser. A identidade de gênero é fixa, imutável, e irreversível por qualquer meio médico ou psicológico. Também sabemos que existe um meio só para determinar a identidade de gênero de uma pessoa--perguntar! O gênero é uma percepção--só a pessoa mesma sabe com certeza qual é, e outra pessoa não pode adivinhá-lo. 

 

 

TRANSGÊNERO:


 

Já que conhecemos algumas informações básicas sobre a identidade de gênero, e temos uma idéia das dificuldades que enfrentam as pessoas intersexuais, estamos preparados para aprender e entender sobre o transgênero e o transexualismo.

 

Nesta página nos enfocamos às condições genéricas de homem para mulher (MtF, a sigla em inglês), já que é a experiência direta de Lynn. No entanto, existe o invés, completamente simétrico, de condições genéricas de mulher para homem (FtM) que são igualmente comuns às MtF. Para mais informações sobre o transgenerismo e o transexualismo FtM, recomendo os sites FtM Internacional e American Boyz. "As Meninas serão Meninos" é um artígo de T. Eve Greenaway que descreve o súbito surgimento à luz, práticamente desde as sombras, do transgenerismo FtM nos colégios e nas universidades americanas. Para um estudo profundo dos antecedentes do transgenerismo e transexualismo FtM, recomendo os livros de Jason Cromwell, Transmen & FtMs, e de Jamison Green, Convertendo-se Em Um Homem Visível.  Também recomendo a página que contem links e fotos de Homens Transexuais de sucesso (Pt).

 

 

Introdução:


Muito oculto e raras vezes mencionado, existe o fato de que alguns meninos, aparentemente normais, de nenhum jeito são meninos, e na realidade devem ter sido meninas. Apesar de que possuem os genes XY normais, genitais masculinos normais, e que têm sido educados como meninos, apesar de tudo, possuem os sentimentos genéricos, as sensações corporais e a identidade de gênero de meninas. De maneira similar, algumas meninas na realidade não as são, e deveriam ter sido meninos. Não acontece freqüentemente, mas acontece. E sempre tem sido assim.


Tal vez em um de cada 200 ou 400 nascimentos ocorre algo nas etapas cedas da gestação de tal maneira que os hormônios sexuais não tiveram o efeito usual na integração do cérebro do feto. Nesses casos, as crianças nascem com um sexo neurológico e uma identidade de gênero inata em oposição ao que indicam os genes e os genitais. Sendo que essas crianças se vêem aparentemente normais, serão educadas de acordo a um gênero contrário ao sexo neurológico. Ser educadas dentro do gênero errado vai lhes causar uma profunda Disfória de Gênero e angústia mental a medida que vão crescendo. Estes são os "Transexuais" (TS), os mais intensamente afetados dos transgénero (TG).

 

Em muitos mais casos, tal vez em um de cada 50 crianças, parece que o "efeito transgênero" esteja presente em certo grau mas ou menos pronunciado--e isso ocorre tanto em meninos quanto em meninas (podemos basear uma estimativa dos números na quantidade de indíviduos variantes de gênero que sempre têm estado dentro ou ao redor da comunidade gay. São, no entanto, só uma pequena fração deste grupo, ao redor do 1% o 2% do total da população). Este grupo de crianças apresenta uma ampla variedade de sentimentos de "gênero cruzado" (do mesmo jeito como as crianças intersexuais apresentam uma ampla variedade de configurações genitais).  A maioria destes meninos transgênero terão graves problemas de adaptação se estarem obrigados a seguir um papel de gênero muito estrito.

 

As mulheres percebem este tipo de caso, especialmente de meninos novos sumamente femininos que deveram ser meninas.  Freqüentemente se comenta, "ele deve ser uma menina". Estas sensatas reações a respeito desses casos de meninos femininos rara vez se fala fora do círculo fechado das mulheres. Em especial o pai fará tudo possível para que o menino se "endireite". Se confunde erradamente ao menino feminino com um menino "pré-homossexual". E logo se faz todos os esforços para "salvar o menino desse destino". Por outro lado, a menina que se sente menino pode se expressar de maneira masculina sem ser criticada tanto—e de fato pode ganhar a aprovação social por ser empreendedora e agressiva em nossa sociedade machista. Mesmo assim ela vai experimentar o mesmo grau de angústia sobre a designação errada do papel de gênero como ocorre no caso do menino transgênero MtF.

 

Não existe um papel social em que aquele menino possa expressar "me sinto uma menina," e assim conseguir ajuda com o problema de gênero. Em vez disso, os jovens transgênero freqüentemente adotam a idéia transmitida pelos pais e companheiros escolares de que se converterão em homens gay. Inclusive alguns intentarão "se converter em gay" e de ganhar aceitação na comunidade masculina gay, quando na realidade isso raras vezes dá certo. Os homens gay procuram homens como parceiros, não pessoas cuja identidade de gênero é feminina. A última coisa do mundo em que poderia se converter um jovem MtF é num homem gay, quem é--no relativo à masculinidade e aos genitais masculinos—muitas vezes mais masculino do que o homem médio!

 

Muitos outros jovens transgênero encontrarão maneiras secretas para se travestir com roupa feminina e explorar e desfrutar dos sentimentos de gênero femininos, e freqüentemente o farão desde muito antes da puberdade.  A falta de oportunidades para expressar abertamente os desejos de gênero e a necessidade de manter totalmente secreto o travestismo, são em geral uma fonte de tremenda angústia, ansiedade e depressão para esses meninos.

 

Um número pequeno de adolescentes transgênero MtF tentarão se apresentar abertamente como bonitas garotas e possivelmente atraiam alguns rapazes heterossexuais como namorados (é dizer, rapazes que as amarão como garotas). Outras adolescentes transexuais MtF procurarão a companhia de garotas, que se sentirão atraídos por eles e os amarão como se elas fossem lésbicas. Nesses casos, se os namorados os aceitam, estas podem ser maravilhosas amantes e companheiras. Porém, muitos jovens transgênero ficarão embaraçadas e se sentirão tan humilhadas pelas tendências femininas que vão esconder os "terríveis e secretos desejos" de todo o mundo, e em ocasiões inclusive a eles mesmos, durante um longo, longo tempo.

 

Para aqueles que são altamente transgênero ou transexuais, a vida sem um gênero corretamente designado produz uma pesadelesco isolamento do que é a dança da vida. Já seja sair com alguém, encontrar o amor, o cortejo, o casamento, educar as crianças, e geralmente fazer todas as pequenas coisas cotidianas que continuamente celebram a pertinência ao nosso próprio gênero, são coisas em que a pessoa transgênero tem que ficar ao lado, relegado só a observar. Ou ainda pior, enquanto se sentem feios e ridículos de aparência social como homens, estão obrigadas a "atuar" um papel para o qual se encontram vazios de sentimentos e que é alheio à natureza interior feminina.

 

O nome para a forma intensa destes sentimentos transexuais é Disfória de Gênero.  (Esta condição se chama muitaz vezes Transtorno de Identidade de Gênero ou GID, da sigla em inglês, mas preferimos não usar o termo “transtorno” porque consideramos a condição uma variação natural do gênero humano.  Em sua vez, usamos Disfória de Gênero para enfatizar a ansiedade de ter que viver no gênero errado.)  Para uma descrição mais formal (em inglês) de GID e mais informações sobre pesquisas científicas neste campo veja o site da Sociedade para Pesquisa da Identidade de Gênero, (GIRES) que contem os seguintes links:

 

 

GIRES Página Principal

Disfória de Gênero [2004] (em inglês)

Definição e Sinopse da Etiologia de Transtorno de Identidade de Gênero em Adultos e Transexualismo (em inglês)

 

"Em conclusão, o transexualismo está fortemente associado com o neuro-desenvolvimento do cérebro...não tem sido demonstrado que se pode modificar esta condição por meio de socialização contrária nem por tratamentos psicológicos ou psiquiátricos...as pessoas podem se beneficiar de um enfoque que inclui um régimen de hormônios e cirurgia corretiva para que se enquadrem o fenotipo e a identidade de gênero, junto com intervenções psico-sociais bem-intencionadas para apoiar a pessoa e para ajudar que se adapte ao papel social apropriado...pode que variem os tratamentos aconselháveis e devem ser personalizados às necessidades únicas e circunstâncias de cada um."

--Citado da sinopse de GIRES da pesquisa atual sobre a etiologia de disfória de identidade de gênero; os pesquisadores mais eminentes do mundo deste campo assinaram este documento.
 

 

Orientação e tratamento médico das mulheres transgênero e transexuais:

 

Serviços de orientação e grupos de apoio agora existem em muitas das principais cidades para ajudar a diagnosticar as condições transgênero e informar sobre as opções para a mudança social de gênero e sobre acompanhamento médico. A internet já oferece um grande número de sites de apoio para pessoas transgênero e transexuais; e fornecem uma ampla variedade de informação prática a respeito da orientação e a transição. Muitos desses sites mantêm listas atualizadas de fornecedores de serviços para as pessoas TG/TS (orientadores, eletrólogos, endocrinólogos, cirurgiões). Alguns dos sites (como o TG Forum) também têm listas de clubes, grupos de apoio e importantes eventos nacionais onde a gente TG pode se reuinir para apoio mutuo.

 

Para algumas pessoas que podem se permitir uma expressão de gênero mais livre, por exemplo a flexibilidade em se vestir, nos trejeitos e na aparência, podem facilmente reduzir a incomodidade e aumentar as oportunidades de livre expressão, bem-estar e felicidade. Quando dessa maneira o indivíduo encontrar algúm grau de paz interior e auto-aceitação, pode continuar por esse caminho, e encontrar amor e desfrutar plenamente da vida sem posteriores modificações de gênero.

 

Porém, as pessoas com intensas sensações transgênero podem considerar mudanças físicas pelo uso de hormônios e mundanças sociais, adotando permanentemente o vestuário do gênero que desejam, alcançando dessa maneira uma “transição de gênero”, normalmente sob a orientação de um especialista de gênero. Na atualidade essa transição é efetuada anualmente por muitas pessoas, que depois vivem no gênero em que se sentem mais a vontade, enquanto permaneçam em algum ponto médio do espectro de gênero físico (é dizer, sem se submeter a uma cirurgia de redesignação para modificar os genitais originais).

 

As trajetórias de gênero das mulheres TG variam de maneira considerável de pessoa a pessoa, dependendo de muitos fatores que incluem a intensidade da condição e o ritmo e método iniciais para expressar a condição.

 

Por exemplo, nas décadas passadas foi muito comum que jovens intensamente TG emigrassem ao cenário gay "Drag" (veja abaixo), onde tinham a oportunidade de abertamente se travestir e “atuar” em público, de se sentir atraentes para os homens e ganhar favores deles (inclusive dos homens gay que pensavam deles como rapazes). Não era nenhum segredo que sempre havia uma minoria das "rainhas drag" que de nenhum jeito eram rapazes gay, mas de fato eram garotas TG (e inclusive transexuais).

 

Com a recente proliferação de clubes e grupos para crossdressers heterossexuais (veja abaixo), e as muitas oportunidades para se montar com segurança em tais ambientes, é muito comum hoje em dia que jovens TG inicialmente pensem de si como homens crossdressers e entrem nesse cenário. Só depois de passar algum tempo se dão conta que não estão interessados somente por se montar pela auto-excitação sensual. E sentindo que não são como a maioria dos crossdressers (que têm namoradas e esposas em casa), começam a enfrentar a disfória de gênero subjacente. Uma vez que surge esta consciência de ser diferente, a pessoa TG geralmente abandona o ambiente crossdresser e entra em interação com conselheiros especialistas de gênero e grupos de apoio TG.

 

Os congressos de gênero ao nível nacional (nos Estados Unidos) agora permitem que as pessoas que estão começando a explorar esses assuntos podem assistir de maneira anônima a um grande evento e ter uma introdução à gama completa das opções de transição. Congressos tais como Southern Comfort e Colorado Gold Rush, embora que sejam fundamentalmente grandes concentrações de crossdressers heterossexuais, também incluem excelentes clínicas e seminários para ajudar a começar uma transição de gênero. Qualquer pessoa que questione sua identidade de gênero pode assistir a esses congressos (na modalidade de homem ou mulher), falar e interagir com pessoas em todas etapas de transição, e rapidamente adquirir muitas informações sobre "como se faz" para enfrentar os desafios e possibilidades de uma transição.

 

A Internet fez um profundo efeito no mundo TG ao ter estimulado uma rápida propagação dos conhecimentos sobre a transição, e fez possível compartilhar informações e trabalhar unidos na rede. Com o advento da Internet e a ampla difusão e disponibilidade de informações eletrónicas sobre o transgenerismo e transexualismo, muitas pessoas TG agora omitem os clubes gay "Drag" e os ambientes de crossdressers heterossexuais durante as primeiras explorações de gênero. Em lugar disso, assistem diretamente aos grandes congressos de gênero, aos grupos de apoio TG e consultam orientadores de gênero, e desta maneira exploram tranqüilamente e quase de maneira anônima as opções para modificar o gênero e para uma eventual transição transgênero. Algumas garotas intensamente transexuais (TS) também passam por uma transição TG e vivem como mulheres TG durante longos períodos antes de se submeter à cirurgia de redesignação sexual (veja Seção II: Transexualismo).


A transição transgênero não requer a "permissão" de nenhuma autoridade; pelo contrário geralmente se faz com a assessoria de um orientador de gênero. A pessoa MtF que faz a transição TG trabalha muito duro para feminilizar a aparência e comportamento tanto quanto possível, usando hormônios femininos, eliminando a barba por meio de electrólise, e fazendo regulagens da voz e de muitas outras condutas. Algumas também se submeterão a cirurgias cosméticas para melhorar a aparência do rosto e do busto. Uma vez que estas mudanças têm avançado suficientemente, a pessoa faz uma transição social, e se veste permanentemente a roupa correspondente ao novo gênero, mudando legalmente o nome, e fazendo com que toda a documentação legal seja retificada com os novos dados (o que é relativamente fácil em muitos estados dos EUA). Ainda existem muitas dificuldades neste caminho, já que a sociedade ainda não se acomoda rapidamente a alguém que se encontra fisicamente "no meio" dos dois gêneros tradicionais. Com tudo, em alguns casos as mulheres transgênero têm conseguido transições com muito sucesso na vida, têm feito boas carreiras e aliás têm encontrado maravilhosos parceiros.

 

Pode-se encontrar alguns exemplos de mulheres TG e as histórias delas nas seguintes fotos e os links correspondentes. Essas fotos demonstram as possibilidades de uma transição transgênero sem a SRS (embora algumas destas mulheres têm completado transições transexuais, ou vão fazê-lo, por meio da SRS):

 

 

Calpernia Addams em 2000:

Uma bonita mulher transgênero

feminilizada  pelo estrogênio

 

 

Para saber mais sobre a Calpernia, vê a Seção Ia.

Poco depois que foi tirada esta foto, Calpernia fez a SRS, completando a transição TS.

 Para saber mais sobre Calpernia vê este novo site, e o novo livro dela, Mark 947.

O filme Soldier's Girl também conta a história dela.

 

 

 

 

Chrysis, uma gostosa mulher TG que foi atriz

de cabaret em New York City nos anos 70 e 80.

 

 

Aqui podemos ver a Chrysis com o Nick Nolte, durante a filmagem de Q&A (no que atuou)

 

 

 

 

Carla Antonelli, uma bonita atriz trans espanhola.

Carla mantem um dos mais importantes sites de apoio TG/TS em espanhol.

 

 

 

Miriam, uma mulher TG do Reino Unido que é de arrasar,

fica feliz com o corpo que já tem, e assim não pensa se submeter à SRS.
 

Miriam se viu envolvida numa controvérsia recentemente

devido a sua participaçáo em um "programa de TV realidade" no Reino Unido.

 

 

 

Nos casos mais intensos de transexualismo, a trajetória inicial das garotas TS pode ser similar à das pessoas TG. No entanto, a resolução final da condição requer mais do que uma redesignação social e hormonal. A única maneira conhecida de resolver a condição transexual é mudar completamente o sexo físico para igualá-lo à identidade de gênero inata da pessoa. Isto quer dizer se submeter a uma "transição transexual", que no caso das pessoas transexuais MtF implica transformar totalmente o corpo de um homem ao de uma mulher. Isto se consegue por usar hormônios femininos e se submeter a uma cirurgia de redesignação (SRS) (Pt) para reconstruir os genitais masculinos aos femininos. A transição transexual nos Estados Unidos se conduz sob um protocolo formal que requer orientação, terapia hormonal, e uma "experiência de vida real" de pelo menos um ano vivendo e trabalhando no novo gênero antes de que o paciente seja recomendado para a SRS (veja a Seção II, Transexualismo).

 

 

 

Harisu, uma bonita garota transexual de Corea que fez a transição na adolescência com a ajuda da mãe dela, e que fez a cirugia de redesignação sexual aos 19 anos. Desta maneira Harisu fez uma "transição transexual" e agora é uma mulher TS pós-operada.

 

 

 

 

Dana International, uma linda garota israelense que fez a transição durante a adolescência e a SRS aos 22 anos. Dana era uma "Rainha Drag" nos cabarets como adolescente, e mais tarde, já como mulher TS pós-operada, se converteu numa renomada cantora.

 

 

 

 

 

 

 

Nos Estados Unidos existem pelo menos umas 32.000 a 40.000 mulheres transexuais pós-operadas (veja a Informação Prevalência na Seção II). Cada ano, ao redor de 1.500 a 2.000 americanos se submetem à cirurgia de redesignação, assim que o número total está aumentando rapidamente. Como veremos, muitas destas mulheres têm experimentado uma vida sucedida depois da transição TS.

 

O número de mulheres transgênero, e o número de transições transgênero, são muitas vezes maior do que o das mulheres transexuais. Assim é muito provável que existam muitos milhares, tal vez vários milhões, de pessoas transgênero nos Estados Unidos.

 

 

Outras condições que coincidem com e que freqüentemente são confundidas com transgênero e transexualismo:

(i) Ser Gay (ii) Rainhas Drag, (iii) Transformistas, (iv) Crossdressers e Transvestites, (v) Travestis, (vi) Fetichistas e (vii) Outros


Transgênero e transexualismo se encontram freqüentemente misturados com outras condições mais comuns que implicam condutas e aparências do tipo travesti. Podemos aprender mais sobre transgênero e transexualismo por contrastá-los com estas outras condições e visualizando as fronteiras--às vezes difusas--entre elas.

 

Enquanto falamos sobre essas questões, devemos lembrar que "etiquetá-las" é muito impreciso neste campo. Diferentes pessoas classificam as coisas de maneiras diferentes. Algumas pessoas consideram que TODAS as situações que implicam travestismo se incluem sob a "guarda-chuva transgênero". Porém, existem diferências fundamentais entre aquelas pessoas que têm uma identidade de gênero "cruzada" suficiente para conduzi-las a fazer uma transição (pessoas TS e TG), em comparação com aqueles travestis ou homens homossexuais Rainhas Drag, que geralmente possuem um gênero masculino completo. A menos que estas diferêncas sejam perfeitamente compreendidas, amontoar todas estas situações sob uma etiqueta só pode causar uma grande confusão.

 

Estas confusões também podem afetar os jovens TG/TS quando numa etapa ceda da vida lidam com assuntos de gênero. Como veremos, muitos jovens TG/TS acham inicialmente que sejam gay ou que sejam Rainhas Drag ou travestis, enquanto tentam se enquadrar no que lhes pareça representar o que sentem. O resultado é que muitos jovens TG/TS emigram para o ambiente dos clubes gay ou travesti, no caminho para resolver as angústias de gênero.

 

Leve em conta também que se expressam as emoções e sentimentos de gênero cruzado de maneiras diferentes em culturas distintas, dependendo dos papéis sociais disponíveis às pessoas transgênero em cada sociedade.  Pode-se utilizar palavras diferentes em várias culturas para se referir às pessoas variantes de gênero.  Essas “etiquetas” variam muito de cultura em cultura, e além disso mudam no decorrer do tempo.  Veja a página de Lynn sobre “as situações das pessoas TG/TS em vários países” e também o site TransgenderAsia, que descrevem como outras culturas classificam as pessoas transgênero.

 

Veja também a página seguinte sobre as dificuldades de se comunicar através das culturas e de traduzir o vocabulário da variação de gênero.  Como um exemplo só, esta página explica como se confunde muitas vezes a palavra “travesti” dos idiomas românicos com a palavra inglesa “transvestite,” que tem um significado bastante diferente.  Tal como veremos, as etiquetas e classificações das pessoas transgênero variam muito de acordo com as normas e idiomas de cada cultura, assim que classificar às pessoas é uma tarefa muito imprecisa.

 

A Gama Larga de Pessoas Transgênero

E as Palavras que se Usam para Descrevê-las (Pt)

 

 

 

(i) A confusão entre Transgênero e Transexual, e o Homossexualismo:

 

Ao redor de 5% dos homens e mulheres são gay, e preferem ter relações sexuais com parceiros do mesmo sexo e/ou gênero. Para essas pessoas, o sentimento inato de atração para o mesmo sexo e/ou gênero é parte da natureza humana. Sempre tem sido assim, apesar dos constantes esforços de várias religiões e sociedades de apagá-lo. Parece que o amor sempre encontra a maneira de vencer, apesar de todos os obstáculos.

 

Sendo que ser gay é bastante comum, o transgenerismo e o transexualismo freqüentemente são confundidos com simplesmente ser gay, e de fato são confundidos com ser "muito muito gay". A primeira idéia que salta à mente das pessoas quando descobrirem que alguém é transexual é, "Nossa! Não suspeitava que ‘ele’ fosse gay!".

 

É muito fácil entender como se pode chegar a essa conclusão. Ao ver uma mulher transexual formando um casal com um homem heterossexual, a gente acha que ela é (ou era) um "homem gay". Concluem que "ele" mudou de sexo simplesmente para atrair companheiros masculinos. Porém, isto é uma idéia totalmente errada que tem origem na ignorância sobre a identidade de gênero. E como veremos, esta idéia mistura dois tipos de pessoas totalmente diferentes: transexuais e homens e mulheres homossexuais.

 

Como foi que começou toda esta confusão? Uma possibilidade é que muitos anos atrás muitas pessoas gay entraram num "jogo de papéis". Durante décadas e décadas tem existido homens gay que atuavam "afeminadamente", e que simulavam o papel da mulher dentro de uma relação, apesar de que possuiam uma forte identidade de gênero masculina e que de nenhuma maneira se sentiam mulheres.

 

Os gays e as lésbicas também muitas vezes tem-se permitido mais liberdade do que os heterossexuais para romper as normas de gênero, em especial quando estão entre seus pares ou em ambientes cômodos.  Mesmo assim, a maioria da gente gay e lésbica tem uma espressão de gênero que dificilmente se distingue da dos heterossexuais.

 

No entanto, os homens gay afeminados (que são uma minoria dentro da comunidade gay masculina) têm sido muito mais visíveis do que as mulheres TG/TS em parte devido ao grande tamanho da comunidade gay. Afinal, já vimos que ao redor de 5% dos homens e mulheres são gay e lésbica e preferem parceiros do mesmo sexo e/o gênero.  Enquanto isso, no passado a maioria das mulheres TG/TS tinham que viver na clandestinidade e ficavam o mais "invisíveis" que fosse possível para poder sobreviver, e acrescentamos que constituem um número muito menor do que os rapazes gay. Assim foi que os heterossexuais chegaram a concluir erradamente que os gays que faziam o "jogo de papéis" ou que se comportavam de maneira afeminada eram homens gay "que na realidade queriam ser mulheres".

 

Em resumo: um homem gay tem uma identidade de gênero masculina. Ele é atraido para homens que também têm uma identidade de gênero masculina, e que em torno são atraidos para ele porque ele é um homem. A última coisa neste mundo que um homem gay quer é mudar de sexo para se converter em mulher. Fazer isto seria um ato auto-destrutivo de proporções catastróficas, devido à identidade de gênero masculina dele, e ao amor pela masculinidade tanto em si mesmo quanto nos parceiros dele.
 

Em contraste, uma mulher TS MtF tem uma identidade de gênero feminina. Ela pode ser heterossexual ou homossexual depois da transição, e assim pode se sentir atração para homens que tenham uma identidade de gênero masculina ou para mulheres com uma identidade de gênero feminina, e estes podem se sentir atraidos para ela porque ela é uma mulher. Ela está desesperada para transformar o corpo para poder se sentir, e ser percebida, plenamente como mulher - por si mesma e pelos amantes dela. Se resulta que depois da transição ela seja homossexual, é porque no novo papel é lésbica, e não porque tem de ver com um "homem gay".
  

 

 

(ii) Rainhas Drag:


Alguns homens gay às vezes se montam como uma espécie de caricatura de mulher, e isso é chamado de DRAG (pela sigla em inglês "DRessed As a Girl"). Eles vão a bares e clubes nesta roupa Drag e também assistem desse jeito a alguns eventos e festas especiais. Certos homens gay que têm aptidão especial para personificar mulheres se apresentam em Drag em vários cabarets (como o clube Oz em Nova Orleans). Alguns desses homens gay, como
Ru Paul, possuem grande talento como "transformistas" e disso têm conseguido carreiras muito boas.
 

RuPaul - famoso intérprete Drag

 

 

Esta prática popular se originou muito tiempo atrás dentro da cultura gay. Os homens chamados de "Drag-Queens" (DQs, ou “Rainhas Drag”) geralmente são homens gay com uma identidade de gênero totalmente masculina. Muitos deles começaram a prática Drag quando eram adolescentes gay e descobriram que era uma maneira muito eficaz de atrair a atenção dos homens fregueses das boates gay. Estes homens não desejam as modificações permanentes que aconteceriam pelo uso hormônios e em vez disso confiam na grande aptidão que têm como intérpretes, a facilidade para se montar e utilizar a maquiagem e próteses de seios para criar a imagem de um corpo feminino. Como homens gay eles valorizam tremendamente os genitais masculinos. Não lhes interessa o conceito de "mudar de sexo", e jamais o considerariam, igual como nenhum outro homem gay o consideraria.

 

No mundo gay masculino existe uma grande sub-cultura de intérpretes drag e de concorrências drag em todo Estados Unidos, e sempre existe uma pequena fração de jovens gay que se sentem atraídos por esse "estilo de vida" como às vezes se chama. Para muitos desses jovens, inclusive aqueles que não são especialmente atraentes como rapazes, se apresentar em Drag em uma boate gay é uma maneira muito eficaz de atrair parceiros, pelo menos enquanto ainda sejam novos. Porém, fora das boates esses rapazes gay são quase sempre masculinos, e sendo que não tomam hormônios ou fazem modificações grandes para feminilizar o corpo, muito poucos poderiam passar como mulheres à luz do dia.

 

Muitos jovens transgênero e transexuais, ao se dar conta de que podem se vestir e atuar como "garotas" nas boates gay locais, sentem uma forte necessidade de se incorporar a esse cenário e inicialmente inclusive podem se identificar como Rainhas Drag. Esse tem sido o caminho muito comum para as garotas TG/TS que começam a explorar a identidade de gênero. Depois de assistir às boates durante algum tempo essas garotas TS/TG se dão conta que contudo não são nem Rainhas Drag nem homens gay. Muitas se chateam das atenções que lhes prestam os homens gay, que os querem precisamente porque são homens, em vez de querer amá-las como mulheres. Gradualmente vêm sabendo de outras garotas que têm tomado hormônios, têm feito o eletrólise e implantes de busto e que podem "passar" como mulheres fora dos clubes. Ainda melhor, têm ouvido de que algumas destas garotas estão encontrando namorados heterossexuais que as amam como garotas. Ao conhecer as possibilidades de viver "de tempo completo" através de uma transição TG ou TS, tal vez elas também comecem a planejar uma transição--e trabalhem para passar como mulheres fora do cenário gay-drag de meio tempo, e finalmente se instalem na sociedade heterossexual como mulheres que fizeram a transição.

 

É dessa maneira que geralmente existe um quinhão de garotas TG e TS no ambiente gay Drag, já que muitas garotas TG e TS continuamente migram através de lá para o mundo que se extende mais além. Apesar de que a maioria das garotas que se apresentam nas boates gay são Rainhas Drag, sempre há umas poucas TS entre elas. Essa não é uma má maneira para que algumas garotas TS se iniciem, já que as boates Drag freqüentemente são ambientes de diversão e são desinhibidos e sem preconceitos, onde elas podem se sentir muito liberadas e dispostas a explorar as características de gênero delas. Para conhecer por dentro a vida de uma garota transexual que passou através do ambiente das boates gay, leia o maravilhoso livro de Calpernia Addams: Mark 947.


Para entender mais do mundo dos Rainhas Drag, intérpretes Drag e concorrências Drag, explore os links dos clubes Drag nos muitos sites web da comunidade Gay.
De interesse notável são os concursos principais de beleza e atuação, como o famoso desfile Miss Continental (mais), que fornecem a muitas Rainhas Drag e mulheres transgênero oportunidades para a expressão da beleza feminina. QUEENMOTHER.TV, o jornal eletrónica da comunidade de intérpretes Drag de Nova York, é outra vitrine da comunidade Drag.


Freqüentemente o público confunde os Rainhas Drag (DQ’s) com os transexuais e vice-versa. As extravagantes caricaturas da feminilidade apresentadas por muitos Rainhas Drag têm a tendência a propagar uma imagem errada da gente transgênero como pessoas de gênero masculino que gostam de caricaturizar as mulheres de maneira ostentosa. E também acontece que aquelas pessoas que só conhecem as transexuais MtF podem assumir erradamente que uma Rainha Drag possua uma identidade de gênero feminina, o que não é a verdade.

 

Alguns teóricos de gênero consideram que os Rainhas Drag pertencem dentro da "gama transgênero", um termo que amontoa todas as variantes de gênero. Lynn acha esta terminologia hiper-inclusiva confusa demais, já que a maioria das Rainhas Drag sem dúvida auto-identificam com uma identidade de gênero masculina e praticam o travestismo principalmente por diversão, e raras vezes se identificam como transgênero dado que não têm nenhuma questão sobre sua identidade de gênero. A melhor maneira de saber se uma Rainha Drag se considera transgênero é lhe fazer essa pergunta, em vez de automaticamente etiquetá-la assim só por ser Rainha Drag.

 

 

 

(iii) Transformistas e o papel histórico dos clubes de transformaistas na divulgação de conhecimentos sobre transições de gênero:

 

Durante os anos 50 e 60, o único contato que tinha muitas pessoas com o mundo das Rainhas Drag e meninas transgénero era por assistir aos cabarês gay que apresentavam espetáculos de “transformistas”.  Nessa época era ilegal que os homens travestissem, assim que poucas vezes se viam “as meninas” fora desses cabarês.  Como resultado, nesses anos o grande público pensava tanto das Rainhas Drag quanto das mulheres transgênero como “transformistas”.

 

Durante esses tempos muito coibidos e incrivelmente homofóbicos, ir a um cabarê para ver “homens” jovens que atuavam o papel de mulheres bonitas era muito emocionante para muitos heterossexuais socialmente conformistas.  É possível que um gole do “proibido e decadente” lhes deu uma excitação sexual ou um sentido de muita mundaniedade.  Qualquer fosse a razão, alguns clubes de transformistas das cidades mais grandes começaram a atrair muitos turistas heterossexuais.

 

Alguns clubes, como Le Carrousel em Paris e Finocchio's em São Francisco, se tornaram famosos ao redor do mundo por apresentar as mais bonitas e talentosas Rainhas Drag e mulheres transgênero.  Logo após, esses clubes atrairam muitas garotas de tendência transgênero, porque ao se juntar ao elenco tinham um pretexto de se apresentar diante de um público pelo menos uma parte do tempo.  Ainda mais importante, a rede social das mulherres transgênero que trabalhavam nos cabarês difundiu às novatas os conhecimentos que emergiam sobre novos métodos e segredos (hormônios, eletrólise, silicone, etc.) para feminilizar seus corpos.

 

Quando trabalhavam no cabarê Le Carrousel em meados dos anos 50, algumas garotas intensamente transexuais começavam a usar o estrogênio, que acabava de estar disponível nas farmácias.  Como resultado, desenvolveram formas esplêndidas e traços delicados e suaves que surpreenderam os fregueses do clube.  Uma delas, a atriz que se chamava Coccinelle, consultou ao Dr. Georges Burou de Casabranca, Marrocos, e foi uma das primeiras pacientes que se submeteu à versão moderna da cirurgia de redesignação sexual (que o Dr. Burou acabava de inventar).  Dois anos mais tarde, outra atriz do mesmo clube, Bambi, também se submeteu à SRS executdada pelo Dr. Burou.

 

Depois dessas cirurgias, Coccinelle e Bambi continuaram a atuar em Le Carrousel, onde um grande público, inclusive muitas pessoas ricas e famosas, as viram.  Como resultado, as notícias das “mudanças de sexo” bem-sucedidas delas espalharam muito rapidamente, o que aumentou tanto a fama delas quanto a do cabarê.

 

As transições transsexuais de Coccinelle e Bambi iniciaram uma divulgação repentina e ampla, através do mundo transgênero, do conhecimento de como se empreende e leva a cabo uma transição de gênero.  Até então, embora muitas pessoas tinham ouvido da “mudança de seco” de Christine Jorgensen, existiam poucas informações detalhadas e práticas sobre como se podia fazê-lo independentmente.  As mulheres de Le Carrousel  mudaram tudo, por falar com as demais sobre o que tinham feito e como o fizeram.  Suas atuações no clube também divulgaram a imagem divertida e culturalmente revolucionária de que “as transsexuais” fossem mulheres bonitas, talentosas e sexualmente desejáveis (o que provocou, mais tarde, uma reação forte contra mulheres transsexuais por parte das feministas intelectuais).

 

Ao longo prazo, Coccinelle e Bambi (Marie-Pier Ysser) tiveram vidas maravilhosas, e você pode encontrar links às histórias delas na página de Lynn Mulheres Transsexuais Bem-Sucedidas (Pt) (ao final da galeria de fotos número 4).  Também se pode encontrar informações históricas sobre o clube Le Carrousel aqui.

 

O site maravilhoso de David DeAlba dá uma lembrança fascinante dos cabarês de transformistas e a cultura deles durante uma época já passada.  O site inclui uma página sobre o clube Finocchio's, e se pode encontrar mais informações detalhadas sobre o clube neste artículo de planetout.com.  O site de Vicki Renee também expõe muitas das atrizes bonitas dos clubes de hoje e ontem na fabulosa “Página das mulheres dos shows” (mais).

 

A tradição de “transformismo feminino” continua até o dia de hoje em clubes famosos das grandes cidades, tais como o Baton Show Lounge de Chicago, onde se pode ver atuações por atrizes bonitas e talentosas como Mimi Marks (mais).  Embora algumas das atrizes desses clubes são Rainhas Drag que vivem fora do trabalho como homens, outras como Mimi são mulheres transgênero que têm transicionado socialmente.

 

Mimi Marks: uma destacada atriz transgênero de shows

Do clube Baton Show Lounge em Chicago, EUA

Coroada “Senhorita Rainha Internacional” em 2005

(mais, mais, mais)

  

 

 

(iv) Crossdressers (e Transvestites):


Muitos homens heterossexuais às vezes se dedicam a vestir, de maneira parcial ou completa, inclusive de tempo completo, a roupa do sexo oposto, com o fim de se sentir sensuais ou de procurar uma excitação divertida. Isso tem-se chamado desde faz muito tempo “travestismo*” e é provável que 20 ou 30% da população total masculina o faz pelo menos uma vez durante a vida.

 

[*Veja a página de Lynn “A Gama Larga de Pessoas Transgênero e as Palavras que se Utilizam para Descrevê-las(Pt) para uma discussão sobre esta terminologia e como mudou o significado das palavras no decorrer do tempo.  Por exemplo, as palavras transvestism e transvestite em ingles (relacionadas, mas não iguais a “travestismo” e “travesti” em português) pouco a pouco perderam aceitação popular devido à estigmatização social e psiquiátrica que chegaram a comunicar, e foram substituidas pelas palavras “crossdressing” e “crossdresser.”  Não obstante, a palavra antiga “transvestite” ainda se confunde com a palavra “travesti” que se encontra em muitos idiomas românicos como português, embora “travesti” se refere a um tipo de variação de gênero completamente diferente.]

 

É muito importante entender que isso é uma prática extremamente comum, e assim devemos entendê-la na perspectiva correta com relação ao panorama geral de todos os temas relacionados ao gênero.


O crossdressing é uma expressão freqüente da sexualidade masculina, como também é o uso da pornografia para obter uma excitação através da vista e uma eventual auto-satisfação, e nesses casos não tem de ver com um assunto de gênero. Os homens sexualmente ativos que gostam de se excitar por olhar as mulheres, podem se sentir muito excitados ao contemplar partes de si mesmos vestidos da roupa feminina. Alguns destes homens gradualmente se sumergem num travestismo completo como um meio de experimentar maior sensualidade e excitação que obteriam de outra maneira.  Porém, é importante levar em conta que os crossdressers (e transvestites) geralmente NÃO se fazem nenhumas modificações corporais como por exemplo por meios hormonais ou cirúrgicos.


Ao madurar, provavelmente uma décima parte dos homens crossdressers continuam até um travestismo completo, e o praticam em privado ou em clubes para crossdressers. Existem milhões e milhões de homens heterossexuais "normais" que são crossdressers, e esta modalidade de travestismo completo realmente é muito comum. Figuras do presente e do passado são bem conhecidas como crossdressers; podemos citar ao J. Edgar Hoover, Jeff Chandler, Milton Berle, Flip Wilson, Dennis Rodman, Marv Albert, e uma longa lista de homens muito masculinos e freqüentemente sexy.


Alguns desses homens podem parecer muito atraentes quando se vestem de "mulheres", seja en fotos ou na tênue luz de algum bar, mas os trejeitos e a "agressividade" tipicamente masculinos revelam que eles não se sentem ou pensam de si mesmos como mulheres, aparte de que não tentam muito se comportar como mulheres. Estes homens simplesmente o fazem por uma diversão sensual. Ao adornar o corpo com suave e sedutora roupa feminina, o crossdresser é capaz de experimentar uma maravilhosa sensualidade masculina ao contemplar o cuerpo aparentemente feminilizado. Como conseqüência desse enfoque na auto-excitação, os crossdressers freqüentemente se vestem de maneira exageradamente elegante e inclusive provocativa e sexy – embora se adornar com um vestido de noite, meias e salto alto é coisa que as mulheres só fazem em ocasiões especiais.


Existem muitos outros crossdressers que sim experimentam sensações transgênero em diferentes graus. Nesses casos, as sensações transgênero e a necessidade de diminuir a angústia de gênero, freqüentemente constituem as motivações primárias para
o crossdressing.  Essas pessoas se referem ou como crossdressers ou transgênero.

 

Alguns crossdressers, especialmente entre aqueles que têm sensações transgênero muito fortes, ansiam por usar roupas femininas em público de maneira mais livre, e tal vez de maneira parcial durante o trabalho. Alguns poucos inclusive chegam a efetuar uma transição social de gênero para poder se vestir de mulher "24/7" (quer dizer, de tempo completo) e se auto-identificarão como transgênero.


Anos atrás, era difícil para os homens facilmente poder adquirir roupas femininas, devido ao medo de estar "expostos" como crossdressers. Felizmente, agora é muito mais fácil. Além de muitos catálogos na internet de roupa feminina (incluindo muitos catálogos "compreensivos" como o de
 J.C. Penney), existe agora uma grande infra-estrutura de lojas, serviços e provedores de roupa e fetiches especificamente para crossdressers. Um dos mais conhecidos e antiguos provedores deste tipo de artigos fetichistas é Frederick’s of Hollywood. Desta maneira, chegou a ser muito simples para os crossdressers encomendar roupa via a Internet (veja por exemplo: TGNOW Shopping Directory, TG Forum Shopping Mall, Glamour Boutique, Fantasy Girl) Estes provedores oferecem algumas importantes vantagens sobre os provedores tradicionais de roupa feminina, já que vendem talhes mais grandes, inclusive de sapatos, e as coleções cubrem uma gama mais ampla de estilos sensuais e exóticos.


Ademais, têm-se formado muitos clubes e grupos que permitem que os crossdressers se encontrem e se montem de mulher em um ambiente social divertido e seguro. O grupo americano mais antíguo, e tal vez o mais influente é o Tri-Ess. Fundado faz décadas por Virginia Prince, um transvestite auto-identificado que saiu do armário publicamente nessa época, Tri-Ess tem afiliados em todos os EUA.

 

Infelizmente, os afiliados Tri-Ess (e muitos outros clubes retrógrados de crossdressers e transvestites) só admitem "homens heterossexuais normais" como sócios e excluem especificamente os homossexuais. Mulheres transgênero e transexuais que recentemente acabam de sair do armário, mas que são bissexuales ou atraidos para os homens, não são permitidas como sócias porque Tri-Ess as considera "homossexuais".


Não deve nos surpreender esta exclusão. O fundadora de Tri-Ess, Virginia Prince, dava discursos freqüentemente sobre "sexo e gênero" nos congressos sobre transexualismo nos anos 60 e 70. Prince caracterizou o crossdressing como o "amor ao feminino" por homens heterossexuais normais e, naturalmente, em contraste com o transexualismo - que foi considerado pela maioria dos psicólogos de comportamento nessa época como uma forma extrema de homossexualismo. (Isto era mais uma conseqüência da teoria errada de John Money de que o gênero era o resultado do condicionamento social, o que conduziu a que os psicólogos destacados classificaram as mulheres transexuais como homens intensamente homossexuais que se submeteram à SRS para mais facilmente ter relações sexuais com homens.) Veja este link para mais
opiniões modernas sobre as causas do transexualismo.


As idéias de Prince exploraram implicitamente a transexualidade como contraste para melhorar a imagem de crossdressing; caracterizou o último com motivos mais altos, puros e intelectuais. Visto que essas idéias continham um eco de, e reforçaram o velho paradigma de que a transexualidade tivesse de ver com o "sexo" (e "sexo gay" em especial), muitos homens psiquiatras da época tomaram muito a sério as opiniões de Prince.


Como efeito secundário dessas idéias, se incrustou uma atitude de homofóbia e transfóbia na cultura Tri-Ess que perdurou até hoje. Se intui que os sentimentos interiores de vergonha e angústia que tinham muitos crossdressers se aliviavam durante muito tempo pela declaração "Embora me monte como mulher, pelo menos não sou bicha nem transexual". Em adição, a exclusão por parte de Tri-Ess de sócios TG/TS e de qualquer pessoa considerada homossexual serve para calmar o medo das namoradas e esposas dos sócios que os maridos delas se cedam à tentação do homossexualismo, ou a uma transição de gênero se mulheres TG/TS conseguirem entrar no Tri-Ess.


Esta exclusão por parte de muitos clubes de crossdressers é um problema para garotas TG e TS jovens que pretendem entrar no ambiente crossdresser ao início da transição, pensando que seria uma boa maneira de "provar as alas" na mudança de gênero. Inclusive algumas acham no início que realmente são crossdressers e tardam em se dar conta das questões mais profundas que têm sobre o gênero. De vez em quando uma garota TG/TS que acaba de se dar conta de sentimentos transgênero intenta se fazer sócia de Tri-Ess pensando que o grupo vai lhe fornecer ajuda. Isso pode resultar em uma rejeição tremenda, e pode danar os sentimentos de uma garota TG/TS em um momento crítico. Assim, se recomenda fortemente às que achem que tenham sentimentos transgênero ou transexuais que NÃO se façam sócios de Tri-Ess, mas que procurem outros grupos de crossdressers mais inclusivos. Naturalmente os crossdressers que querem se fazer sócio de um clube de crossdressers que só admite "homens heterossexuais normais" ficarão à vontade na Tri-Ess.


Felizmente, os paradigmas do crossdressing estão mudando rapidamente e se abrem clubes divertidos para crossdressers e TG/TS que atraiam muitos sócios. Finalmente, no início do século XXI, parece que o medo, a vergonha, a angústia e o secretismo que caracterizaram o crossdressing no passado começam a mudar para que se converta numa atividade de plena satisfação - freqüentemente com o apoio carinhoso de parceiros e esposas.


Um exemplo de um clube de crossdressers muito mais orientado para os TG é Crossdressers International (CDI), na cidade de Nova York, um grupo de apoio para crossdressers que tem um apartamento na cidade onde se reúnem, e onde as novas irmãs podem sair do armário. Tarde cada quarta-feira as pessoas TG ou crossdresser podem se reunir para socializar e jantar. Podem-se montar no apartamento e expressar o lado feminino livremente, e alguns saem para jantar na cidade depois das reuniões.


Existe em muitas cidades agora também uns maravilhosos "serviços de transformação" tais como FemmeFever em Long Island, NY, onde crossdressers podem obter ajuda pessoal, habilidosa, informada e compassiva para desenvolver e experimentar a "pessoa feminina". Para ter uma idéia das possibilidades destas transformações, veja a surpreendente página de fotos "antes/depois" no site de FemmeFever, que mostra uns rapazes realmente bonitos e fotos deles como bonitas garotas depois de se transformar. Junto com este serviço de transformação, FemmeFever é o ponto de encontro para uma grande comunidade CD/TG/TS da região, e organiza muitos eventos sociais que podem ajudar que os novatos saiam do armário e se divertam.

 

Veja as maravilhosas fotos antes/depois

do site Web Femme Fever:

 

 

 

Espera-se que mais clubes de crossdressers se abrirão para incluir e dar a bem-vinda às mulheres TG/TS, sobretudo às que acabam de sair do armário pela primeira vez e assim são muito vulneráveis nesse momento. Estes clubes poderiam ajudar as mulheres TG/TS que estão começando a aperfeiçoar a apresentação e o comportamento feminino melhor do que poderiam fazer a sós.


Além dos clubes locais de crossdressers e os afiliados de organizações nacionais dos Estados Unidos, a comunidade de crossdressers também organiza vários "congressos de gênero" a nível nacional nos Estados Unidos. Esses grandes eventos atraem um grande número de pessoas e fornecem lugares maravilhosos e seguros de encontro para a comunidade crossdresser onde se pode desfrutar de muitas atividades sociais que acontecem em hóteis estupendos. Três congressos especialmente grandes são o Colorado Gold Rush que tem lugar ao fim de cada inverno em Denver, Colorado, o Be-All de Chicago cada junho em Chicago, Illinois, e o Southern Comfort cada outono em Atlanta, Georgia. Pessoas de todas partes do espectro transgênero participam nesses eventos, e os congressos vêm sendo mais anunciados como congressos TG. No entanto, os crossdressers são o grupo mais numeroso entre os participantes e o crossdressing é um tema central.

 

Colorado Gold Rush, Southern Comfort e Chicago Be-All:

congressos de gênero para crossdressers, e agora, pessoas transgênero também.

 

 

 

Assistir a um destes congressos é um modo excelente para que alguém que acaba de se dar conta que seja crossdresser/transvestite/TG/TS saia ante si mesmo e possa conhecer muita gente interessante de origen diversa, aprender rapidamente sobre todas partes da comunidade, e começar a se encontrar a si mesmo. Estes congressos fornecem aos crossdressers um modo fantástico de desfrutar abertamente do crossdressing, mas ao mesmo tempo de maneira anônima, dentro de um ambiente de grande hotel durante muitos dias. Os congressos também incluem todo tipo de seminários e sessões de auto-ajuda para pessoas crossdresser/transvestite/TG/TS sobretudo, desde informações básicas sobre o vestuário feminino até seminários para mulheres TS por provedores de assistência médica e cirúrgica. Os congressos representam um modo mais orientado ao futuro, um meio mais divertido e menos pavoroso de desfrutar do crossdressing, e ao mesmo tempo ajudam a comunidade mais ampla de crossdressers/transvestites/TG/TS a se conhecer e se entender melhor.


A terminologia pode dar lugar a confusão quando tentamos falar do crossdressing dentro do contexto mais amplo das condições transgênero. Alguns "teóricos de gênero" consideram que os crossdressers e transvestites se encontram sob o "guarda-chuva transgênero," memso quando declaram ter uma identidade de gênero masuclina.  Visto que há muitos mais crossdressers heterossexuais com identidades de gênero masculinas do que pessoas transgênero, organizações ativistas de gênero muitas vezes os incluem (e Drag Queens/Rainhas Drag também) dentro da definição do "guarda-chuva transgênero" para poder aproveitar do número maior deles para apoio financeiro.

 

A comunidade tradicional de crossdressers e transvestites é testemunho de um fluxo cada vez maior de garotas TG/TS pelo ambiente crossdresser. Algumas destas garotas se questionam e não estão seguras se a trajetória de gênero final delas será crossdresser ou TG ou TS. Nesse ínterim, todo o mundo envolvido se está educando melhor sobre as diferenças entre os sentimentos interiores e as identidades de garotas TG/TS e os sentimentos do número maior de homens crossdressers e transvestites heterossexuais. Parece que as etiquetas estáticas já não funcionam a respeito de comunidades taõ fluidas.


Visto que não há uma linha divisória limpa entre aqueles crossdressers que têm sentimentos transgênero e aqueles que não os têm, parece melhor deixar aos indivíduos qual terminologia utilizarem. Muitos crossdressers não gostam de ser chamados de transgênero, enquanto outros preferem ser etiquetados assim, porque sentem algum grau de identificação com o gênero feminino. Nestes casos se deve respeitar a identificação transgênero.


Infelizmente o ambiente crossdresser está dominado quase totalmente por uma nuvem omnipresente de vergonha, angústia e medo por causa de uma longa história de estigmatização social. A grande maioria dos crossdressers ainda tem muito medo de ser desmascarados ante esposa, família, amigos e companheiros de trabalho. Este medo vem do fato de que, se estarem descobertos ou desmascarados, os crossdressers possam virar objeto de assédio, crimes de ódio e discriminação muito intensa no emprego, como no recente
caso "Winn-Dixie" (em inglês).

 

Ainda pior, o sistema de saúde mental segue classificando o "travestismo fetichista" em homens como uma "doença mental" (exatamente como classificou ao homossexualismo até que conseguiu melhor compreensão). Apesar dos ataques a esse diagnóstico do Manual Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), 2000 da Associação Americana de Psiquiatria desde muitos frentes, segue deixando uma sombra sobre o ambiente crossdresser e reforça o medo e a vergonha tão comum entre eles.

 

Tristemente, é provável que qualquer "doença mental diagnosticada" associada com o crossdressing seja um simples "artefacto iatrogênico"--quer dizer, um resultado da estigmatização exercido pelo sistema médico e a sociedade como um todo. Com outras palavras, os problemas mentais de crossdressers não se devem ao crossdressing, mas são depressões ou ansiedades CAUSADAS pelos esforços de psiquiatras e outros de parar este "comportamento", inclusive em casos em que o crossdressing é evidentemente benéfico para o bem-estar da pessoa. Para ver um relatório recente sobre esse assunto (em inglês), veja este link. Para uma crítica extensa de estereotipos psiquiátricos da diversidade de gênero (em inglês), veja a página Web do Centro da Identidade de Gênero de Colorado sobre a reforma de GID.


A classificação, não científica, de um comportamento inócuo e agradável--crossdressing--como uma doença mental tem sido uma fonte de medo e discriminação durante muito tempo, não apenas entre os crossdressers, mas também entre todas as pessoas transgênero. Espera-se que ativistas de gênero possam educar e elevar o nível de conhecimento e demonstrar que o antigo ponto de vista do sistema psiquiátrico sobre crossdressing não tem sentido e estigmatiza injustamente as pessoas que só estão se divertindo, explorando sentimentos interiores de gênero, e encontrando paz sem danar ninguém.

 

Felizmente os tempos vem sendo mudando. Muitos crossdressers hoje em dia e as parceiras deles estão rompendo os velhos paradigmas de pensamento, e estão simplesmente desfrutando de quem são e do que fazem. Embora muitos crossdressers ainda sentam a necessidade de esconder por completo das esposas e namoradas o comportamento, muitos outros são sinceros com as parceiras. Como resultado, muitas esposas e namoradas estão descobrindo que podem aceitar plenamente e apoiar o crossdressing do parceiro, acima de tudo se isso ajudar que ele seja uma pessoa muito mais satisfeita, mais sensual, mais apaixonada e mais carinhosa. Por exemplo, veja Alison's Website (o site Web de Alison, em inglês), que descreve a relação de Alison com a parceira dele, Sue, e também Kathy and Amanda Bower's Home Page (a página de Kathy e Amanda Bowers em inglês), que descreve a relação estupenda que Kathy tem com a parceira dele, quem não apenas o entende, mas também o aceita e inclusive é entusiasta a respeito do crossdressing. Para mais informação sobre a tendência para um novo paradigma de franqueza e bem-estar na família, veja o livro recem-publicado por Helen Boyd (em inglês):

 

 

 

 

My Husband Betty (Meu Marido Betty) é um livro por Helen Boyd, a esposa de um crossdresser.  Helen escreveu este livro para tentar ajudar que esposas e crossdressers vejam mais além da "vergonha e o segredo" que atualmente saturam a comunidade crossdresser. A atitude geral--de que o crossdressing é um problema que se deve "suportar" em uma relação--impede que floresçam atitudes mais positivas sobre o crossdressing. Ademais, Helen acha que os crossdressers estão reconhecendo seu lugar no espectro TG, e espera que a nova geração de crossdressers possam começar a entender que os direitos transgênero são também o problema deles. Ela é escritora feminista, e espera ver que as esposas de crossdressers se dêem mais valor através do amor que têm seus parceiros para o feminino, e encoraja a toda a comunidade que se dê conta, nas palavras dela, que "nós--chamadas mulheres genéticas, mulheres que têm feito uma transição, e mulheres "temporárias"--vamos todas para o mesmo objetivo: reconhecer e celebrar nossa feminilidade.

 

O livro de Helen (em inglês) se pode encomendar pelo Amazon.com.

 

 

Para uma introdução mais a fundo ao crossdressing, veja "Porque ser um transvestite?" (em inglês).  A seção intitulada "O que creio", é uma descrição realmente aberta, honesta, e auténtica do que é ser um transvestite, e também há muitos links excelentes aí. Para saber mais sobre o crossdressing, existem muitos sites pessoais que se pode explorar. Outros bons exemplos de sites pessoais são: o site de Yvonne para Crossdressers (em inglês) e a Página de Tammie (em inglês).  Para outros livros de consulta sobre o crossdressing, veja a Lista de Livros CD de Kathryn (em inglês).

 

 

(v) Travestis (”She-Males”) e Similares Identidades de Gênero Compostas

 

Em muitas grandes cidades das Américas e em muitos portos do mundo, existem grandes comunidades pouco visíveis de mulheres transgênero que trabalham principalmente no chamado “comércio sexual”, quer dizer, a prosituição, a pornografia, os clubes de espetáculos, etc.

 

Durante anos isso serviu às adolescentes transgênero jogados da casa pelas suas famílias como uma “zona de pousada” onde pelo menos podem sobreviver financeiramente, mesmo quando lhes faltam documentos de identificação, educação ou outro tipo de apoio social.

 

Em alguns casos, essas garotas ganham um bom dinheiro como prostitutas e “acompanhantes”, e as mais bonitas e talentosas delas às vezes conseguem se fazer durante algúm tempo atrizes bem-pagas.  No entanto, muitas vivem de modo muito marginalizado nos bairros baixos das grandes cidades.

 

No mundo de fala inglesa não existe um acordo sobre como se deve chamar essas garotas e mulheres.  Podem ser chamadas, ou podem se chamar de “she-males” ou “mulheres-da-rua”, enquanto outras se chamam de transgênero ou transsexual e auto-identificam assim, mesmo se algumas sigam caminos de vida diferentes à maioria das mulherres transgênero.

 

Embora se considere ofensivo o termo “she-male” em alguns ambientes, e às vezes se use deliberadamente para ofender às mulheres transexuais pré-operadas, algumas pessoas transgênero já estão reabilitando o termo como boa maneira de se descrever.  Por meio da pornografia “she-male” disponível na internet, muitas pessoas se deram conta da beleza e sensualidade destas mulheres, com resultado que a palavra se torna mais exótica do que desprezável.

 

Nos países onde se falam idiomas românicos, o termo universalmente aplicado a essas pessoas é travesti.  Não se deve confundir este termo com a palavra inglesa transvestite, que quer dizer um homem heterosexual que veste a roupa feminina.  Devido ao aumento da imigração de latinoamericanos aos E.U.A., inclusive aqui às vezes se ouve a palavra travesti em lugar de “she-male”.

 

De modo similar às mulheres TG e TS, os travestis geralmente empreendem uma transição de gênero de tempo completo, deixando para atrás a identidade de gênero masculina, mas conforme aos costumes da sua comunidade (e às vezes faltando o dinheiro para se transformar mais completamente), muitas vezes não assumem a identidade nem o físico completo de uma mulher.

 

Essas mulheres muitas vezes parecem muito femininas à sociedade e se comportam de maneira correspondente, mas muitas negam ser mulheres ou ter uma identidade de gênero feminina.  Já que elas não crêem que se encaixem dentro das duas categorias principais de gênero, às vezes se referem como de um terceiro sexo e/ou gênero, ou simplesmente “outro”.

 

Tais identidades de gênero intermediárias se desenvolvem juntas com as modificações físicas que fazem os travestis.  Às vezes fazem tudo possível para alcançar um corpo feminino, com a exceção fundamental de reter os genitais masculinos funcionais.  Na verdade, embora muitos usam hormônios femininos, outros muitos não os usam (ou limitam o uso), para assegurar que retenham a função sexual masculina, com o resultado de que têm que depender de cirurgia estética e/ou injeções de silicone para feminilizar seus corpos.  Em geral, os parceiros sexuais dessas mulheres são homens, mas é discutível se deve qualificar a oreintação sexual deles como heterossexual, homossexual ou outra coisa, ou se vale a pena tentar qualificá-la.

 

Ainda não sabemos se esse grupo representa uma identidade de genêro estável ao longo prazo.  Alguns travestis jovens já não se limitam a uma vida de emprego no comércio sexual, e outros o estão evitando completamente, em especial já que grupos ativistas e serviços modernos de saúde de algumas cidades (mais notavelmente São Francisco, Califórnia) se esforçam a atendê-los.  Outros finalmente elegem outros caminhos transgênero, inclusive transições transsexuais completas e se assimilam como mulheres dentro da sociedade.

 

No entanto, na América Latina (e especialmente no Brasil, onde este grupo tem sido mais visível e melhor estabelecido durante muito mais tempo), existe evidência de que sim formam um grupo coerente de pessoas que têm uma identidade de gênero que não é puramente masculina nem feminina, mas é uma mistura das duas.  Em muitos casos é esse identidade composta – em vez da mera eleição de emprego – que é o fundamental da identidade dos travestis e é uma fonte de muito orgulho e realização para eles.       

  

 

(vi) Travestismo Fetichista, "Autoginefília" e outras classificações psiquiátricas: São etiquetas ou estigmas?

 

Alguns homens inclinam intensamente ao crossdressing, se preocupam pelos sentimentos descontrolados de dependência ao crossdressing e à masturbação, e procuram ajuda sócio-psicológica para controlar a dependência. Os psiquiatras têm considerado que esse grupo, conforme o Manual Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2000,) sofre uma “doença mental” chamado “fetichismo travesti.” Não se sabe a causa da condição, nem há remédio, salvo ajudar que a pessoa não se preocupe tanto, e a aceite e desfrute.


Infelizmente essa velha etiqueta psiquiátrica tem uma imagem extremamente negativa e tem o efeito iatrogênico de intensificar a culpabilidade e a vergonha das mesmas pessoas que consultam aos psiquiatras para ajuda. A prática mesma dos psiquiatras de colocar etiquetas difamatórias tem causado muito da dor desnecessária que sentem os crossdressers a respeito da "condição" (assim esses psiquiatras também se asseguram um fluxo constante de clientes).

 

Durante alguns anos recentes, entre 2000 e 2004 aproximadamente, a situação se empiorou ainda mais quando um gangue de sexólogos (Ray Blanchard, J. Michael Bailey e Anne Lawrence) tentaram etiquetar quase todas as mulheres transexuais com o mesmo velho diagnóstico estigmatizante.  Isto resultou num inquérito minucioso da ética e dos métodos científicos desses sexólogos, e logo à derrubada do projeto deles.  Veja o link seguinte para um resumo do que aconteceu:

 

 

Travestismo Fetichista, também chamado “Autoginefília”

Durante un Tempo Por Blanchard, Bailey e Lawrence:

São Etiquetas ou Estigmas? (Pt)

  

Para mais informação sobre a teoria de Blanchard, o livro de Bailey, e a queda de Bailey, Blanchard e Lawrence, veja Andrea James' BBL Clearinghouse (em inglês), O Relatório Investigativo de Lynn Conway sobre o livro de Bailey, e o artigo de Joan Roughgarden “Psicologia Pervertida.” (Pt) Especialistas, historiadores e eticistas encontrarão documentação mais detalhada desse fiasco científico na página Web “esquema histórico dos acontecimentos e links à evidência.”

 

Infelizmente, essa era só a mais recente de uma série longa de teorias desacreditadas do transexualismo que têm proposto psiquiatras, sexólogos e outros especialistas.  No futuro, em vez de inventar etiquetas altamente estigmatizantes para descrever as mulheres transexuais, e em vez de disputar eternamente entre si o significado dessas etiquetas, é melhor que os sexólogos façam algo mais produtivo:  devem empreender seguimentos de transições de gênero no mundo real, para nos ajudar a entender quias fatores dão lugar a transições com resultado positivo e quais não.

 

Nesse ínterim, quando se ouve a palavra “autoginefília,” a traduça “fetichismo travesti.”  Logo, faz a pergunta, “tem esse termo qualquer significado real?  Ou é, por outro lado, nada mais que outra estigma oficial mascarada como uma classificação científica?”  Para mais esclarecimento sobre as palavras fabricadas que “definem” condições inexistentes como doenças mentais, vale a pena ler sobre a condição inexistente de “ninfomania” e como se parece à inexistente “autoginefília.”

  

 

Ninfomania y Autoginefília:

A Invenção de Doenças Mentais por Psiquiatras (em inglês)

 

 

Para uma crítica à questão das "etiquetas" veja a seção "Mais além das etiquetas", abaixo.

 

 
 

(vii) Outros:

 

Outro grupo de pessoas às vezes confundidas com pessoas transgênero ou homossexuais são homens que têm uma aparência intrinsecamente feminina e mulheres que têm uma aparência intrinsecamente masculina. Muita gente de gênero normal têm uma aparência física um pouco cruzada de gênero, às vezes sem se dar conta das sinais misturadas de gênero que emitem. Isso é o resultado da herença genética, não é uma manifestação deliberada e absolutamente não quer dizer que sejam transgênero. Infelizmente essas pessoas são muitas vezes o alvo de zombaria e preconceitos simplesmente por causa da aparência física delas.

 

Recentemente apareceram jovens que começaram a se chamar de "trans" ou "transgênero" como modo de rebelar contra os estereotipos rígidos de gênero. Alguns rapazes adolescentes que vêem uma garota jovem e sensual como Britney Spears em um show, não apenas se sentem atraídos a ela sexualmente, mas também desejam ser um pouco como ela, física, estética e sensualmente. Logo após começam a ter esse tipo de reação a outras garotas bonitas também. Ao sentir um pouco de estresse de gênero e inveja de gênero sob os paradigmas atuais, começam a reclamar poder se vestir como gostam, independentemente do gênero. Às vezes utilizem um pouco de maquiagem e se vestem parcialmente de gênero cruzado, explorando os sentimentos de gênero, para se divertir e para fins gênero-políticos.

 

Muitos destes rapazes "trans" não são fortemente transgênero, e sairão desta fase depois da adolescência. Este "movimento"  lembra os anos 60 quando alguns homens começaram a usar o cabelo muito comprido como rebelião contra a conformidade estrita dos anos 50. Pode ser que esta tendência seja ultimamente benéfico para os verdadeiramente transgênero e para pessoas gay ao relaxar as atitudes da sociedade e fazer com que o público se torne mais tolerante para as variacões na apresentação de gênero.

 

Outros jovens têm começado a mostrar uma identidade que chamam de “raro de gênero” que envolve a expressão de identidades de gênero, orientações sexuais e modificações corporais que são fluidas e individualistas, e eles se permitem a liberdade de mudar estas expressões conforme ditam seus sentimentos interiores.  Muitos também advogam a “soberania rara,” quer dizer que o indivíduo resiste às pressões dos demais de se encaixar dentro de qualquer categoria GLBT.  Para os “raros de gênero,” uma identidade de gênero composta é uma coisa natural e não surge de nenhum motivo de se rebelar contra as normas vigentes da sociedade atual.  No entanto, tais expressões de gênero são capazes de abrir mais os conceitos antiquados do “comportamento correto de gênero.”

 

Outro grupo mais de pessoas variantes de gênero, que muitas vezes difícilmente se distingue dos “raros de gênero” é o dos andróginos, que geralmente se vêem ter uma identidade de gênero mais ou menos no médio da gama masculina-feminina.  Como no caso de qualquer grupo, a identidade de gênero deles é sobretudo um reflexo dos espíritus interiores dos andróginos e pode ser expressado ou não por sua aparência exterior.

 

Finalmente há muitos que se associam à comunidade transgênero, mas que não são facilmente "classificáveis" ou reconhecidos como transgênero. Um grupo grande e difuso é de gente que não tiveram sucesso na vida, não podem se manter como iguais entre outros homens, se sentem "fracassados" como homens e de uma maneira ou outra adquirem a idéia de que "tal vez deveriam ter sido mulheres". Tal vez se travestissem um pouco no passado, e ouvissem falar do transgenerismo e pensem "Isso mesmo! É a explicação de todos os meus problemas!” Ou podem ter inveja da situação da mulher mantida que conseguem algumas garotas novas e bonitas, e desejam arrumar uma situação similar. Essas pessoas estão atrapalhadas a respeito dessas coisas e às vezes se unem a grupos de apoio TG, ou entram nos refúgios e nas clínicas das grandes cidades e procuram ajuda para uma mudança de sexo.

 

Essas "pessoas que não têm desenvolvido o potencial" são um grupo muito dificil de organizar e ajudar. Muitos sofrem de uma doença mental, outros estão viciados em drogas, muitos têm má saúde e a maioria têm outros problemas psico-sociais de adaptação. Muitas dessas pessoas acham que podem se converter em mulheres bonitas se somente os "médicos lhes dêem os hormônios e as operem", pensando que eles não têm que fazer nada mais do que se submeter aos tratamentos. Apresentam-se como "vítimas" e apelam às clínicas e aos serviços sociais, implorando ajuda.

 

Infelizmente, pessoas tão dependentes são muito maus candidatos para uma transição de gênero visto que lhes falta a capacidade para resolver problemas e adquirir facilidades pessoais para poder completar um projeto tão complexo, sem falar de se tal projeto faça sentido para eles ou não. Como lhes faltam identidades de gênero femininas, as tentativas deles à transição são normalmente fracassos desastrosos, o que resulta numa marginalização social ainda mais marcada. Essas "pessoas que não têm desenvolvido o potencial" circulam pelas margens dos grupos de apoio TG/TS e ficam aí durante anos (e, como no caso dos autoginéfilos, o presença visível deles em grupos de apoio muitas vezes assusta os jovens trans de tais grupos). Esses são casos tristes para os quais agora não há solução fácil.


 

Porque reagem algumas pessoas com tanta hostilidade contra os transgênero?

Porque se culpa aos transexuais mesmos as aflições deles?


Ser gay não afeta o gênero, nome, corpo ou aparência de nenhum jeito. Ser gay só quer dizer que se sente atração intrínseca para um parceiro afetivo do mesmo sexo e/ou gênero. A grande maioria de gays "passam" como de gênero normal e assim evitam descoberta e perseguição constantes.

 

Passar desapercebido pode ser muito mais difícil para a pessoa transgênero, sobretudo quando tenta fazer uma transição parcial ou completa ao gênero social correto conforme o cérebro e identidade de gênero interna. Fazer uma transição quer dizer mudar de roupa, de aparência externa, de nome, dos registros legais, todas as relações familiares e sociais -- em breve, mudar tudo o que você faz de um modo ou outro.


É comum que o mundo trate as pessoas em médio de uma transição como se fossem "Rainhas Drag" inusitadamente exibicionistas ou "travestis fora de controle" que desfilam publicamente. Muitas pessoas reagem com hostilidade ante transições assim porque as confundem com os estereotipos lascivos de "pervertidos sexuais" da mídia. Inclusive as pessoas gay muitas vezes se sentem incômodos perto de uma pessoa visivelmente transgênero, e podem sentir que as pessoas TG/TS projetam ao grande público uma imagem estranhamente errada das pessoas gay. De maneira similar, os homens que são eles mesmos crossdressers que não têm saído do armário podem sentir culpabilidade e vergonha intensas por causa do seu próprio comportamento e muitas vezes se sentem intensamente incômodos e temerosos quando se encontram com pessoas visivelmente transgênero.

 

Às vezes surgem os mesmos sentimentos de vergonha e angústia nos homens gay que não têm saído do armário ao se encontrar com mulheres visivelmente transgênero, porque eles podem confundir o homosexualismo com o transgenerismo.  Em adição, qualquer sensação de atração sexual para uma pessoa visivelmente transgênero pode provocar um incômodo profundo para muitas pessoas que não estão seguras com seu próprio gênero ou orientação sexual.

 

Também existem muitas pessoas que consideram que qualquer expressão transgênero (e da mesma maneira qualquer orientação sexual “fora do normal”) seja uma eleição deliberada que não signifique nada mais do que o desejo do indivíduo de “se divertir,” “atrapalhar o arranjo social estabelecido” ou “representar publicamente uma doença mental.”  As pessoas que pensam assim muitas vezes utilizam a expressão “estilo de vida” para se referir às pessoas GLBT, para pressupor que identidades de gênero e orientações sexuais fora delas que aprovam são caprichosas, sem sentido e finalmente inválidas.  Infelizmente essas opiniões mal-informadas, incorretas e estigmatizantes muitas vezes se transmitem de uma geração a outra, dentro dos lares e entre grupos de pares dentro das escolas e outras instituições.    


Também, como veremos na Seção II, muitos da profissão psiquiátrica ainda consideram o transgenerismo e o transexualismo "doenças mentais" (exatamente do mesmo modo que muitos psiquiatras consideram o travestismo como uma doença mental e o chamam de "fetichismo travesti"), e estão classificados como tais na Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), 2000. Estes antiquados classificações são a razão de uma intensa estigmatização adicional de pessoas TG/TS por grande parte da comunidade médica e da sociedade em geral, porque essas pessoas, supostamente "doentes mentais", estão culpadas de causar seu próprio estado mental e estão estereotipadas de maneira que assusta aos demás.


Em adição, muitas religiões estabelecidas têm tabus estritos contra qualquer tipo de comportamento variante de gênero e as doctrinas oficiais, ensinos e práticas delas muitas vezes difamam, ridiculizaram e atormentam as pessoas variantes de gênero.

 

Por essas e muitas outras razões, o transgenerismo e transexualismo (sobretudo o transexualismo homem para mulher) têm-se considerado historicamente "condições socialmente impopulares" na sociedade ocidental. Infelizmente as reações hostis contínuas dos demás podem fazer muito complicado e inclusive derrubar uma transição, sobretudo se os problemas de emprego afetam a capacidade de ganhar a vida. Não devemos subestimar a angústia pessoal que sofre uma pessoa cuja transição se tranca ou fracassa (veja a história de Rexanne em Um final trágico de uma tragédia (em inglês)).


Espera-se que algum dia o grande público entenderá que as pessoas TG e TS visivelmente em transição estão seguindo profundos imperativos biológicos e estão tentando desesperadamente resolver a incongruência de gênero que profundamente sentem. Não se deve ter medo dessas pessoas nem estigmatizá-las pelos esforços de resolver uma condição que não têm elegido.


 

Tonalidades cinzentas: combinações e intergradações de gênero e preferências de parceiro:


Evidentemente as coisas não são tão simples como podem ter parecido em nosso comentário até este ponto. As coisas não são ou branco ou preto. Ao contrário, há muitas tonalidades cinzentas que reflitem uma gama de condições de gênero.


Algumas pessoas gay podem ter conflitos de identidade de gênero. Por exemplo, alguém que encontre um lugar inicialmente na comunidade gay, e que logo se classifique como uma Rainha Drag pode ser, pelo contrário, transgênero ou inclusive intensamente transexual. Algumas pessoas fortemente transgênero podem preferir alguém do mesmo gênero como parceiro. Algumas pessoas, inclusive os transgênero, podem ser bissexuais, atraídos para parceiros íntimos dos dois gêneros. Surgem então perguntas como, se a mulher TS pré-operada ama uma mulher, então é heterossexual ou lésbica? Em todos esses casos vemos que nossa tendência a rapidamente "colocar uma etiqueta" nos leva a dificuldades semánticas, etiquetas falsas e confusões. 


Por exemplo, se sabemos que um casal íntimo se compõe de dois "homens genéticos," podem ser muitos cenários distintos possíveis para explicar a verdade do que passa. Simplesmente podem ser dois homens gay, ambos que se classificam do gênero masculino, e essa relação pareceria à de dois homens. Porém, um deles poderia ser um homem heterossexual que namorou de alguém fortemente transgênero ou que é uma mulher transexual pré-operada. Numa relação desso tipo os dois em geral sentem que têm se enamorado como homem e mulher (Lynn teve muitas relações desse tipo quando era uma nova garota TS pré-operada). Por outro lado, as duas pessoas podem se identificar como "gay" e pensar na relação como gay, embora em quase todos os aspectos, tem de ver com uma relação homem-mulher.

 

Esse mesmo tipo de complexidade pode surgir em relações entre mulheres genéticas, dependendo de como as duas amantes definem o gênero delas. E as coisas podem virar ainda mais obscurecidas se uma ou ambas das amantes é transgênero moderada, ou se uma ou ambas não revelam sua identidade de gênero à outra amante. Considere também o que passa se uma das pessoas de um casal gay ou lésbica é transgênero e finalmente faz uma transição. Por exemplo, uma história recente escrita por Sara Corbett no New York Times Magazine nos pergunta, "A mudança de sexo implica o fim da relação?" O artigo conta a história de duas mulheres, Chris e Debbie, que eram amantes lésbicas e tiveram uma filha, Hannah (Debbie se fertilizou por um doador anônimo). Porém, Chris era intensamente transgênero e mais tarde fez uma transição (mulher a homem), e se submeteu à cirurgia e terapia hormonal com testosterona para se converter em homem. A transição dele suscitou muitas perguntas e dificuldades na relação, mas perdurou e profundizou. Debbie está grávida outra vez, e agora estão esperando um filho. Essa é uma história formosa sobre duas namoradas, e da família que criaram.

 

Chris e Debbie, com a filha Hannah

Uma família ordinária de origem extraordinária

[ da New York Times Magazine, 10-14-01 ]

 

 

Outra situação comum é que uma mulher transexual pré-operada que efetua uma transição já tarde na vida possa estar casada com filhos. Isso não é de surpreender, devido à pressão social ao longo prazo para "sair com mulheres" à qual está sujeitada a transexual, e por causa da ânsia que sente a transexual por alguma intimidade e camaradagem humana. Em muitos desses casos a esposa de uma transexual não se dá conta de que o "marido" pensa de si mesmo como uma mulher, quer ser uma mulher fisicamente e sente que o matrimônio é, na prática, similar a uma relação lésbica. A esposa só aprenderá a verdade se a transexual finalmente se enfrenta e procura ajuda. Na maioria dos casos as relações se acabarão pouco a pouco se o marido fazer a transição de homem para mulher. No entanto, em alguns casos (como o de Chris e Debbie) essas relações podem continuar intatas se os parceiros se amam profundamente e podem se ajustar às mudanças físicas enquanto adianta a transição.

 

Tanto as comunidades “normais” quanto as GLBT cada vez mais estão reconhecendo que variações e combinações humanas desse tipo não são tão raras, e as estão aceitando sem ter de colocar etiquetas limitadas de gênero ou sexualidade.  A realidade é que as preferências pessoais a respeito de amantes – se alguém sente atração “ao mesmo” ou “ao oposto” – pode tem de ver com as características de gênero ou de sexo, ou com uma combinação dos dois. 

 

 

Mais além das "etiquetas", e em lugar delas, visualizar sensações de gênero, assim como condutas e trajetórias de gênero.

 

Temos visto que existem muitas variações e combinações de condições de gênero, que se inserem em um amplo contínuo de possibilidades. Essas são verdadeiras realidades que afetan profundamente as vidas de um número elevado de pessoas em relações íntimas e sentimentais. Infelizmente, ainda não temos um vocabulário adequado para falar da ampla gama de fenômenos, e se deixa à maioria que se arrume sozinha as confusões de gênero e as identidades transgênero nas relações sentimentais.

 

A tendência dos psiquiatras, psicólogos, médicos e conselheiros de gênero a "etiquetá-nos" como "travestis", "transgênero", "transexual", etc., pode esconder a verdade em qualquer caso determinado. As pessoas com alguma variação de gênero às vezes se encontram empacadas em confusões e disputas sobre essas etiquetas. Os conselheiros e os clientes deles discutem eternamente questões como "É essa pessoa (ou sou eu) um travesti, ou realmente uma transexual?". Ou, "É essa pessoa uma Rainha Drag, ou uma TG, ou uma TS?", e assim continua, muitas vezes com uma camada subjacente de crítica, paternalismo e um ar de superioridade, considerando algumas condições "mais aceitáveis" do que outras, ou vice-versa dependendo de com quem fala!

 

Essas dificuldades com as "etiquetas" lembram a Lynn de uma observação penetrante que fez o Edwin Armstrong, um grande ingenheiro dos primeiros anos do século XX que fez muitas das invenções fundamentais para a tecnologia da telecomunicação moderna:

 

 

 

“Os homens substituem palavras pelas realidades, e logo discutem as palavras.”

- Edwin Armstrong

 

 

 

Não seria melhor nos fazer perguntas em vez de tentar responder a perguntas sem sentido sobre etiquetas mal-definidas? Tal vez uma pessoa se travista, mas isso pode ou não quer dizer que seja um crossdresser -- pode ser TG ou TS ou DQ. Uma pessoa pode tomar hormônios e desfrutar do crescimento dos seios, mas isto não quer dizer que seja TS ou mesmo TG! Você ve como as etiquetas complicam ainda mais o assunto?

 

As etiquetas dão uma ilusão de representar a realidade, mas quando se pesquisa a fundo, se dissipam! Somos o que fazemos, o que sentimos, como nos comportamos e a trajetória que seguimos. Somos sempre "uma obra inacabada" exatamente como os demais seres humanos. Não se pode nos definir de uma vez para sempre simplesmente por nos colocar uma etiqueta.

 

O que importa de verdade são os sentimentos interiores. Que diz seu corpo e seu coração que deve fazer? Como é que você se comporta na realidade? Quais experiências teve realmente? Qual trajetória de gênero faz mais sentido em seu caso? Quais mudanças físicas e sociais pode ou deve fazer para que possa encontrar um estado físico/social mais cômodo na sua vida? Pode fazer essas mudanças sem sacrificar demais em seu emprego, em suas relações familiares, em suas expectativas de encontrar um parceiro sentimental mais tarde na vida?

 

Agora, essas são perguntas reais que requerem respostas reais. Ninguém pode simplesmente diagnosticar você e declarar: "Você é TS, e então deve fazer o seguinte". Não se faz assim—é muito mais complexo.
 

Há tantas variáveis que não faz sentido tentar distinguir "de antemão" quem é crossdresser em vez de TG em vez de TS. Isso se descobre olhando o que faz a pessoa no decorrer do tempo. Algumas pessoas se travestem e isso é suficiente para satisfazê-las. Pode chamá-las de "crossdressers", mas, quem sabe o que vão fazer em dez anos? Algumas pessoas podem avançar para uma transição social (normalmente com o uso de hormônios). Pode chamá-las de "TG", mas o que é que quer dizer isso realmente? Depois de tudo, podem ir mais longe e se submeter à SRS no futuro, ou algum dia podem virar para atrás na transição. Algumas pessoas fazem uma transição social e também se submetem à cirurgia de redesignação de sexo. Pode chamá-las de "TS", mas, como veremos na Seção II, isso também é um erro em alguns casos.


O único de que realmente PODE estar seguro, quando se trata dos demais, são observações de comportamentos e trajetórias reais. Se alguém se traveste, isso é um comportamento REAL e você pode dizer "Aquela pessoa se traveste". Se alguém vive uma transição social, isso é um comportamento REAL e um ponto de mudança na trajetória de gênero. Pode dizer "Fulano de tal fez uma transição TG". Se alguém efetua uma transição social e se submete à SRS, isso também é um comportamento REAL e um ponto de mudança na trajetória de gênero. Pode dizer, "Fulano de tal fez uma transição TS". Mas não faz sentido classificar ninguém como crossdresser, TG ou TS - salvo como um tipo de "taquigrafia" para se referir informalmente à pessoa.

 

Tome nota: assim é como Lynn deseja que se interpretem as etiquetas neste site, quer dizer, como um espécie de "abreviatura", mas sempre levando em conta a grande complexidade de situações individuais e as grandes variações que se experimentam e como mudam no decorrer do tempo. Também temos que ficar abertos à possibilidade de mudar, extender e evoluir essa "linguagem abreviada" enquanto evoluem nosso entendimento e os modelos empíricos das vidas transexuais.

 

As etiquetas para minorias de gênero não servem melhor para definir os "papéis de minorias de gênero" do que os "jogos de papel" serviam para definir verdadeiros papéis significativos na comunidade gay. As etiquetas, e os supostos papéis que se associam a eles, são simplesmente demais estáveis. As etiquetas são demais estritas e restritas na maneira que afetam as pessoas. São inúteis para recomendar o que deve fazer alguém, e na realidade fará, quando descobrir como realmente necessita viver e se apresentar na sociedade.

 

Somente você pode escutar o que o coração e o corpo estão pedindo que faça, quais comportamentos deve explorar, e qual trajetória detalhada de gênero deve seguir. Enquanto faz isso deve analisar a gama mais ampla de opções e possibilidades. Não agarre a conclusão de que você é um "crossdresser" ou que é um "TS" nem imite estereotipos do que "um crossdresser deve fazer ou não", ou o que "um TS deve fazer ou não". Quando seguir o seu caminho, assegure que permita que sua trajetória vire em direções que possivelmente variem inesperadamente do caminho que predizia originalmente, enquanto seu corpo e seu coração aprendem a sentir novas experiências.

 

De modo similar muitos jovens atualmente estão movendo mais além das etiquetas "hetero" contra "gay" ou "lésbica" quando analisam as opções na hora de escolher um parceiro sentimental, porque essas etiquetas são muito restritas também e limitam as opções para encontrar o amor na vida real. Para muita gente maior na comunidade gay essas etiquetas têm muito valor e servem um propósito importante na definição de quem são. Desse modo as etiquetas se tornaram estreitamente vinculadas à identidade das pessoas e há uma pressão política considerável de guardar as etiquetas e aplicá-las a todo o mundo. No entanto, essas etiquetas simplesmente não funcionam para muitas pessoas que são bissexuais e cujas trajetórias de vida dependem da pessoa com quem se enamoram.

 

Para uma introdução à complexidade das etiquetas de identidade de gênero, veja a resenha de um livro novo pelo link seguinte de Bay Windows Online:

Este livro novo examina a identidade de gênero: Intitulado "Mal-definido Pelos Pronomes," (Conviction Books, atualmente só em inglês), esta antolog­ia é uma montagem ambiciosa de 75 escritores locais, a maiori­a dos quais se identificam como transgênero, "raros" de gênero, ou simplesmente "raros".  À primeira vista, esta obra de mais de 200 páginas sinaliza uma realização literária para a comunidade transgênero de Boston e uma ferramenta para mudar as opiniões do público sobre os estereotipos de gênero. Além disso, o livro destaca o crescimento de solidariedade da comunidade transgênero dessa cidade--uma comunidade unida para a meta de desafiar a linguagem, a perpetuação de um binário de gênero, e as suposições posteriores sobre o que nos faz uma mulher, um homem, e um ser humano.
 "Sob a bandeira transgênero ou raros de gênero, alguns de nós queremos expandir o binário de gênero, alguns queremos destrui-lo, outros queremos salvá-lo," explicou Lee Thornhill, editor de Conviction Books, "(mas) todos nós queremos ser vistos como o que realmente somos."

Uma das contribuintes, Taryn Levitt, escreveu no prefácio do livro:

 

"Dentro destas páginas estamos contestando. Contestamos às teori­as que nos apagam, aos livros que escrevem sobre nós mas jamais para nós, aos médicos que somente nos vêem como defeituosos, a nossas famílias natais que nos repudiam, a nossas famílias elegidas que nos abrigam, a eles que preferem que morramos, e a eles que dizem que "nossas vidas são impossíveis."  Acrescenta outro contribuinte, Abe Rybeck: “Nossas vidas não só são possíveis mas também são revolucionárias.


 

 


 

Na seção seguinte compararemos a gama de transições transgênero (TG) e transexual (TS) em mais detalhe. Como veremos, a ampla gama de transições de gênero atualmente estão aumentando o "espaço de gênero" reconhecido no qual se pode encontrar uma realização na vida. Estas explorações nos fornecem roteiros para como se pode seguir muitas novas "trajetórias de gênero" (é dizer, seqüências de "estados de gênero") na vida. Mediante este processo estamos muito mais informados sobre como se pode fazer uma transição de um estado determinado de gênero inicial, através de vários estados médios, para finalmente se afirmar em um estado que seja cômodo e autêntico para cada pessoa.

 

 

 

Seção Ia: TRANSGÊNERO (cont.) 

(em português)

 

 

 

 

Zerado o 5-27-06

V-4-16-06

[LC colocou 5-27-06]

  

A página de Lynn: (Pt)

http://ai.eecs.umich.edu/people/conway/conway-Portuguese.html