Informações Básicas TG/TS/IS
por Lynn Conway
Copyright @ 2000-2005, Lynn Conway.
Todos os Dereitos Reservados.
Traduzido por Sônia John
Seção Ia:
Informações básicas sobre o gênero e transgênero (continuação)
Seção I: Informações Básicas sobre o Gênero e Transgênero (Pt) |
Seção Ia: (TG continuação) |
Seção II: Transexualismo (MtF) (Pt) |
Seção III: A vida como uma mulher depois da transição TS (ainda só em inglês) |
Seção Ia - Conteúdo:
No armário da minha mãe: Sonhar com ser uma mulher na meninice:
"O armário da minha mãe era ao mesmo tempo um santuário e uma bola de cristal, um lugar onde escapei do mundo, e um lugar onde pude prever meu futuro pelo que representava a roupa da minha mãe. Meus sentidos se avivaram no armário da minha mãe. O cheiro de perfume, graxa de sapato, lã, coro; o tato de cetim, veludo, seda, chifom - essas coisas tinham o poder de evocar sonhos e fantasias....
E, embora não fosse proibido, sempre tive medo de entrar aí. Medo de que? De que me descobrissem? Mais provável é que tivesse medo de encontrar uma coisa, alguma pista que revelaria o mundo misterioso que sabia que eu entraria algum dia, o mundo de ser uma mulher." - Eugenia Zukerman
Ao ler essa página muitas pessoas suporão que essas palavras são lembranças de uma mulher trans. Mas não são—são lembranças da eminente escritora e comentarista das artes da televisão, Eugenia Zukerman, e são da capa do notável livro novo dela No Armário da Minha Mãe: Um Convite à Lembrança.
Nesse livro maravilhoso Eugenia coleta as lembranças da meninice de 43 mulheres, enfocando na poderosa atração do mundo feminino e das fantasias reveladas pelas coisas que encontraram nos armários das mães. Muitas das mulheres descrevem os sentimentos sensuais, quase magicamente poderosos, enquanto exploraram e provaram as coisas que aí encontraram entre o calor, a suavidade, as cores intensas e os cheiros doces aí dentro.
Este livro revela por primeira vez quão comuns são essas experiências entre as meninas, e como formam parte do ritual de chegar a ser uma mulher.
Encontraram nos armários das mães os segredos das mulheres que chegariam a a ser. ...para cada uma dessas mulheres, abrir a porta do armário da mãe parecia desatar a esclusa para se inundar de lembranças e pensamentos que iam mais além de roupa e bens. Houve lágrimas e risos durante as entrevistas, junto com intuições e revelações e resoluções carinhosas. A coleção de lembranças resultante fala dos mitos e ritos de passagem, e explora a conexão intensa, às vezes alegre, às vezes dolorosa, entre mãe e filha. Eugenia Zukerman |
Através de nossa compreensão do transgênero, sabemos que alguns meninos têm as mesmas experiências, e muitas vezes as descrevem da mesma maneira.
No passado a maioria das pessoas creu que só os meninos pervertidos se obsessionavam com as coisas da mãe, como se as meninas não o tivessem feito. Já sabemos que as meninas experimentam exatamente o mesmo, e ninguém as está acusando de perversão sexual!
Este livro nos ajuda a ver as experiências desses meninos nos armários das mães, não como uma perversão sexual, mas bem como ânsias sensuais e atrações a uma identidade adulta que é tão irresistível para eles como para qualquer menina. Essa revelação pode ser útil para todos que sentam vergonha e desconcerto por ter feito coisas assim na meninice, sobretudo se psicólogos têm lhes colocado etiquetas estigmatizantes, ou se outras pessoas os têm insultado, só por fazer o que as meninas fazem de maneira tão natural.
Este é um livro importante sobre a busca de uma visão da identidade adulta, e sobre os rituais, muitas vezes secretos, para chegar a ser uma mulher em nossa cultura, e o recomendo muito.
O triste, claro, é que os meninos que têm a necessidade de ser meninas não recebem a aceitação das mães, nem o reforçamento das ânsias. Têm de encontrar o caminho sozinhos, sem ajuda adulta, em sigilo, em silêncio e com medo. Tal é a história da meninice que muitas mulheres trans arrastam à tona durante os anos de transição.
O Contraste entre as Transições Transgênero (TG) e Transexual (TS):
São muitos os distintos caminhos que as pessoas transgênero MtF (Mulher a Homem) podem viajar enquanto se convertem em mulheres.
Durante as últimas décadas muitas mulheres transexuais têm se submetido a uma transição transexual, que inclui tanto uma mudança social de gênero quanto uma "mudança de sexo" cirúrgica dos genitais, e depois tiveram vidas sucedidas no novo gênero. Muitas histórias na mídia sobre esses casos têm ajudado que a sociedade se desse conta pouco a pouco da idéia de uma transição transexual, e se tornasse mais tolerante e aberta. Muitos dos estados dos Estados Unidos já têm procedimentos bem-estabelecidos para mudar registros públicos de nome e gênero para quem complete uma transição transexual, e muitas empresas já também têm procedimentos para aquelas pessoas que façam uma transição transexual.
Recentemente, muitas pessoas transgênero que não têm sentimentos intensamente transexuais têm começado a fazer uma transição de gênero abertamente. Alguns crossdressers finalmente se rendem ante os sentimentos TG e ante a necessidade de assumir uma identidade feminina social. Outros são Rainhas Drag que têm desfrutado durante muito tiempo de participação nos espetáculos Drag, mas que finalmente se dão conta da força dos sentimentos de gênero cruzado. A maoria dessas pessoas começam a transição por usar dosis pequenos de hormônios femininos (o suficiente para causar uma feminilização até certo grau) e por se submeter a tratamentos de eletrólise para retirar a barba. Quando estão feminilizadas até certo grau, mudam o gênero social de tempo completo, se vestem como mulheres, e modificam a voz e o comportamento, tomando um nome feminino e conseguindo algum tipo de identificação formal no gênero feminino. Assim conseguem vários graus de transição de gênero SEM a cirurgia transexual SRS.
Já que mais pessoas transgênero se dá conta das oportunidades para uma transição social, o número dessas transições TG tem aumentado de maneira dramática. Muitos conselheiros de gênero já vêem muitas mais pessoas fazendo transições de gênero sociais do que transições transexuais, sobretudo entre os pacientes mais velhos. Este reconhecimento da validade de uma transição de gênero social é uma tendência original e importante, já que evidentemente há muitas mais pessoas transgênero do que transexuais no contínuo mais amplo de gênero.
Algumas pessoas TG que estão transicionando migram para um papel social "transgênero" em vez de tentar passar como mulheres. É possível que essas pessoas se sentam pouco cómodas com a idéia de se converter completamente a respeito da apresentação e comportamento, e sobretudo quando se trata de modificar cirurgicamente os genitais. E por outro lado, sentem a necessidade de fazer um papel social transgênero ou andrógino que reflete melhor a identidade de gênero cruzado delas. Transicionistas assim muitas vezes permanecem visivelmente transgênero e estão cômodas com essa identidade e papel, e nas vidas sociais fora do trabalho muitas vezes estão envoltas com pessoas da comunidade transgênero. Muitas ativistas TG, porta-vozes de grupos de apoio, oradores sobre temas TG, etc., são gente com identidades transgênero completamente abertas.
Outras transicionistas TG vão muito além para passar socialmente como mulheres (mas sem ter se submetido à SRS), e algumas têm sucesso em atingir essa meta. Algumas inclusive têm sucesso ao se assimilar finalmente como mulheres socialmente (mas não sexualmente).
Enquanto pensamos nesse espectro de possibilidades, podemos visualizar que o grau em que se complete uma transição TG é relacionado às metas da transicionista. "Completar" depende do lugar onde tem que chegar para falar de ter "chegado". Há muitos possíveis destinos finais.
Já é possível que algumas pessoas TG transicionem enquanto estejam empregadas em colocações profissionais sólidas, simplesmente por informar a empresa que vão "transicionar", sem especificar detalhes se é uma transição TG ou TS. A maioria dos chefes e companheiros simplesmente supõem que a pessoa vai se submeter a uma transição TS, sobretudo se se dedica muito a passar como uma mulher. Então essas pessoas podem seguir o caminho bem-marcado de uma transição TS, salvo que, embora feminilizadas pelo estrogênio, nunca se submetem à SRS para se transformar físicamente em mulheres.
Esse tipo de transição pode permitir que as pessoas TG encontrem alívio e um lugar mais cômodo na sociedade. E, como não se submetem à cirurgia transexual, podem guardar os genitais masculinos e desfrutar deles, funcionando como uma “travesti” com um homem para parceiro sexual, ou como "homem" com uma mulher para parceira sexual.
Naturalmente, o uso pouco rigoroso da palavra "transição" pode dar lugar a confusão, inclusive entre as pessoas TG e TS mesmas. Por exemplo, se alguém diz, "Fiz minha transição em 1991", fica a pergunta desconcertante de que a pessoa seja transgênero, travesti ou uma mulher transexual pós-operada - uma pergunta que pode ser relevante em situações sociais como organizar pares ou outras atividades de cortejo. Porém, se alguém diz "Sou transgênero e fiz minha transição em 1991" o estado da pessoa fica claro. De modo similar, se alguém diz "Sou transexual e fiz minha SRS em1991," o estado de transexual pós-operada fica claro (exceto no caso de autoginéfilos que não se identifiquem como mulheres). (Uma mulher que ainda está na etapa da experiência da vida real como uma mulher pode clarificar o estado ao dizer "Fiz minha transição o ano passado e farei minha SRS em aproximadamente um ano").
Em resumo: uma pessoa transgênero MtF (Homem para Mulher) se submete a uma transição social de gênero para poder viver como uma mulher transgênero no dia-a-dia social. Uma pessoa transexual MtF se submete não só a uma transição social de gênero, mas também à mudança de sexo físico (através de SRS), para poder viver plenamente e funcionar como uma mulher na vida sentimental íntima também.
O triste é que muitas pessoas que têm feito a transição TG se sentem desnecessariamente avergonhadas da condição física de gênero misturado, e às vezes têm muito mais medo de que estivessem descobertas do que o medo que possam ter as mulheres pós-operadas. Muitas encobrem seu estado de transgênero dizendo que são "transexuais". Se se descobre ou se revela o sexo físico de uma maneira ou outra, muitas vezes dizem que são "transexuais pré-operadas" ou "transexuais não-operadas" como explicação do estado de gênero misturado.
Felizmente, muitas pessoas TG já se dão conta que uma identidade de gênero misturado é uma identidade autêntica, e que uma pessoa não deve se sentir avergonhada por isso. Cada vez mais dessas transicionistas se declaram como transgênero e estão afirmando que se sentem cômodas assim. Sendo abertamente transgênero, começam a atuar como modelos para outras que esperam viver como mulheres mas que não querem "chegar ao final," é dizer se converter genitalmente em mulheres.
Assim, não se deve pressionar nenhuma pessoa TG para que pense que uma transição de gênero implica automaticamente se submeter à cirurgia de redesignação de sexo (SRS). Tal pressão surge de antiquados modelos bi-polares de gênero que não deixam espaço para ninguém entre os dois gêneros homem e mulher. As pessoas transgênero não devem se sentir obrigadas a dizer que são "pré-operada" ou "não-operada", ou que inadequadamente devem se apresentar como "pós-operada". Deve ser válido dizer "Sou transgênero" se essa é a verdadeira identidade interior da pessoa.
De modo similar, não se deve dizer nunca àquelas garotas TS que têm a necessidade de se submeter a uma transição TS – aquelas que realmente têm a necessidade de ser garotas tanto fisicamente quanto socialmente - que "estão concordando com uma visão estereotípica da feminilidade", ou que "devem estar perfeitamente contentas como travestis e não devem se submeter à "cirurgia mutilante" de SRS. Muitas pessoas na comunidade gay, lésbica, feminista, e inclusive TG dirão coisas similarmente terríveis a garotas novas TS desde um desconhecimento total da profundidade dos sentimentos transexuais dessas garotas e a necessidade delas de uma transição de gênero completa.
No fundo cada qual tem que estar livre de empreender qualquer modificação de gênero que tenha que fazer, por se basear nos próprios sentimentos interiores – já seja que necessitem se converter em uma variante de gênero, andrógino, se submeter a algum grau de transição TG, ou se submeter a uma transição TS completa. Cada um deveria ser livre de poder estabelecer a identidade de gênero que melhor lhe convenha, sem pressões indevidas dos demais, e sem que a sociedade o marginalize por viver essa identidade. Também deveria poder ser livre de reconhecer abertamente a identidade de gênero autêntica, não importa em qual parte da gama de gênero se encontre, em vez de se vergonhar disso, de ter que escondê-lo, o de sentir pressão a falsificá-lo.
Espera-se que a sociedade começará a reconhecer a validade e autenticidade do estado de gênero misturado das pessoas transgênero, e lhes concederá um lugar na sociedade sem a cirurgia genital, exatamente como aconteceu para as mulheres transexuais que se submeteram a uma transição TS completa, cirurgia genital incluida.
Avaliando novamente a discriminação e os crimes de ódio contra a gente gay e transgênero:
A discriminação e os crimes de ódio contra as pessoas transgênero quase sempre são erradamente identificados como crimes contra pessoas gay por causa dos extensos mal-entendidos e a confusão sobre a diferença entre ser gay e transgênero. A grande maioria dos chamados "crimes de ódio contra gays" são crimes contra pessoas crossdresser/DQ/TG/TS visivelmente variante de gênero e não em contra das pessoas que são simplesmente conhecidas como gay.
As mesmas pessoas que discriminam e atacam muitas vezes crêem que estão atacando "gays" quando atacam as pessoas transgênero. Pode ser o caso também que algumas das vítimas sejam simplesmente homens com uma aparência feminina, ou mulheres com uma aparência masculina, e que não sejam homossexuais nem transgênero. Em adição, aqueles homens gay atacados são muitas vezes jovens, pequenos e afeminados, e assim parecem "estereotipicamente gay". O que parece fazer explodir a fúria e os ataques horrorosos contra estes jovens é a aparência de feminilidade e vulnerabilidade em um "homem". Um exemplo trágico é Matthew Shepard, o jovem gay, pequeno, sensível e impressionantemente bonito que foi torturado enquanto atado a uma cerca, até que morreu em Wyoming (Estados Unidos) em 1998.
[1 de dezembro de 1976 - 12 de outubro de 1998]
Em muitos casos os ativistas gay têm explorado a "invisibilidade do transgênero" por divulgar todos os ataques motivados por diferenças de gênero como se fossem crimes de ódio "anti-gay", enquanto não deixaram claro o estado transgênero, transexual ou de outro modo fisicamente variante das vítimas.
Por exemplo, a morte por surras, extensamente divulgada, do soldado Barry Winchell em um quartel em Tennessee foi caracterizada ao início por grupos ativistas gay e pela mídia popular como um "crime de ódio contra um gay". Porém, o amante de Winchell não era outro homem -- Winchell nunca tinha saído com homens – pelo contrário era uma jovem e bonita mulher transgênero que se chama Calpernia Addams. Callie era intérprete em um "espetáculo Drag" em um cabaret onde assistiam os soldados. Barry e Callie se encontraram aí, começaram a sair juntos e se namoraram profundamente. Barry, que era um homem normal que se encantou com as garotas bonitas, aceitou Callie plenamente como uma mulher, apesar do estado de transição TG dela. Então outro soldado bateu nele e o matou num explosão de violência homofóbica causado pela relação que Barry tinha com Callie. Depois desse evento trágico a mídia gay referiu a Callie como "um homem gay" em vez de uma mulher transgênero, e a marginalizou deliberadamente para evitar que se revelasse o estado transgênero dela. Se revelou esse aspecto da história por fim no artigo escrito pelo jornalista David France intitulado "Uma Mulher Inconveniente" na revista do New York Times de domingo o 28 de maio de 2000.
Mais tarde, no verão de 2002, Callie se submeteu à SRS para completar a transição TS, e já é a mulher que sempre quis ser. Em 2003 se estreou o filme "Garota de Soldado (Soldier's Girl)" no festival de cine Sundance que conta a história do amor dela com Barry Winchell e o final trágico. Calpernia tem escrito o livro Mark 247 sobre a vida dela, e também tem lançado um site Web maravilhosamente compassivo para a gente TG/TS.
Calpernia Addams fala em uma
reunião sobre direitos para o coletivo gay,
com um desenho do namorado falecido, o soldado Barry Winchell, detrás dela.
Tristemente os gays, lésbicas e feministas muitas vezes transmitem a transfóbia (e como isso já está mudando):
Uma longa série de casos deliberadamente mal-classificados por parte de ativistas gay, como o de Calpernia, produziam relações tensas entre ativistas gay e a comunidade TG/TS. Esses erros de classificação têm aumentado o isolamento e a invisibilidade das pessoas transgênero. Ademais, muitos homens gay destacados como o escritor Jim Fouratt, e muitas feministas destacadas como Germaine Greer e Janice Raymond, são altamente transfóbicos e têm trabalhado publicamente contra os esforços para reduzir a discriminação contra gente TG/TS.
Fouratt é infame entre a comunidade TG/TS por ter juntado transgênero e homossexualismo, por dizer que uma transição de gênero é o equivalente a uma "terapia anti-gay reparativa", e por escrever que mulheres transexuais pós-operadas são na realidade "homens gays enganados" que têm se submetido a uma cirurgia mutilante.
Greer é notoria por se opôr às "mudanças de sexo" e por incrustar a transfóbia na "teoria tradicional feminista". A raiva extranha contra a mera existência de mulheres transexuais é tão profunda que tem participado (com outras feministas inspiradas por ela) em caças de bruxas para "tirar do armário" e difamar publicamente as mulheres TS pós-operadas durante os anos 80 e 90 (incluindo o caso da física Rachel Padman da Universidade de Cambridge no Reino Unido).
Mais sobre a propagação extensa de transfóbia e intersexofóbia pela notória feminista Germaine Greer: Para o fim dos anos 90, Germaine Greer se viu tão envolvida nas suas teorias feministas sobre uma "essência de mulher" quase mística (baseada de algum modo em "ter genes XX") que foi inclusive mais além e condenou todas as mulheres AIS intersexo por ser "homens fracassados", dizendo que deveriam viver como homens em vez de como mulheres. Ofereceu esta idéia absurda, incluindo as garotas AIS e as mulheres pós-operadas transexuais no capítulo que leva o título desrespeitoso "Damas de vódevil" no novo livro de 1999 A Mulher Inteira (The Whole Woman). Nesse capítulo conclui que mulheres com AIS e outras variações cromossómicas não têm direito de se considerar "mulheres" ou “femininas.” Este livro é leitura recomendada em muitos cursos de "Estudos da Mulher" em importantes universidades, e está doutrinando a transfóbia e a intersexofóbia a uma nova geração de feministas acadêmicas.
A condenação cruel e pouco científica de Greer, não só de mulheres transexuais, mas também de mulheres AIS intersexo tem lhe atraído consideráveis más críticas da comunidade científica e refutações de pesquisadores destacados como o Professor Milton Diamond, professor de anatomia e biologia reprodutiva da Universidade de Hawaii. O seguinte é uma parte da resposta do Prof. Diamond ao livro de Greer do site do Grupo de Apoio AIS(AISSG): . "Estimada Professor Greer,
Chamou-me a atenção uma parte de seu livro novo "A Mulher Inteira (The Whole Woman)" que trata da insensibilidade androgênica (AIS). Enquanto a Sra. escreve com convicção, infelizmente também escreve com ignorância da condição, salvo daquilo que se pode encontrar em revistas para leigos. É como se escrevesse de Shakespeare depois de ter lido sobre as obras dele só nas histórias em quadrinhos. A Senhora perdeu a essência do tema.
De modo peculiar a Sra. finge escrever desde o ponto de vista feminista. Enquanto se podría admitir com satisfação que as feministas podem ter diferentes pontos de vista sobre a feminilidade ou a identificação delas com o estado de ser mulher (seja como for o que queira dizer isso), a Sra. nega esse direito às demais e as vê como farsantes. Vê como uma debilidade o fato de que outras mulheres aceitem indivíduos AIS (e transexuais homem para mulher) como verdadeiras mulheres - - -
- - - Mas, e isto é o mais significativo, também nega a esses indivíduos os direitos psicológicos, as necessidades e discernimentos psicológicos deles para seguir a vocação de ser mulher. Tem uma idéia muito estrita do que é ser mulher, e evidentemente só as que cumprem com seu critério forçado parecem estar à altura. Porque não nega que as mulheres XX inférteis são mulheres? Conforme sua definição são mulheres incompletas. Falaria asneira contra mulheres com mastectomias? Segundo sua definição são mulheres incompletas. As mulheres AIS fazem o máximo possível para seguir os ditados dos corações e dos cérebros, enfrentadas a uma condição médica natural, embora relativamente pouco comum. É uma pena que perde de vista a floresta por ver demais árvores quando o único que considera são os cromossomos e as gónadas de um indivíduo e ignora as partes mais importantes de uma pessoa, as que a faz humana, o cérebro e a mente.
Permite que eu sugira que a Sra. se encontre com algumas mulheres AIS e fale com elas. Deveria ser tão instrutivo como ler uma boa obra de Shakespeare.
Atentamente, Milton Diamond, Ph.D. |
Raymond (professora da Universidade de Massachussetts) é muito conhecida nos círculos de feministas lésbicas pelo livro profundamente transfóbico "O Império Transexual: Como se Criou a Ela-homem" (The Transsexual Empire: The Making of the She-Male), um livro que influenciou o pensamento cedo feminista sobre mulheres transexuais. No livro ela condena as "mudanças de sexo" homem para mulher como "uma conspiração dos homens para criar mulheres artificiais com quem cumprir fantasias sexuais". Logo procede a zombar das mulheres transexuais por ser utilizadas pelo patriarcado para reforçar os estereotipos de mulheres. Uma segunda edição desse livro acusadamente transfóbico em 1994 foi adotada em cursos feministas e de estudos sobre a mulher em muitas grandes universidades e este livro também está fomentando um aumento da estigmitazação de mulheres transexuais entre uma nova geração de "feministas acadêmicas" em universidades americanas.
A continuação das diatribes públicas de pessoas como Frank, Fouratt, Greer e Raymond tem ajudado a incrustar uma reação automática de transfóbia na cultura das velhas gerações de gays, lésbicas e feministas, até tal ponto que é politicamente correto nesses círculos "se opôr a transições transgênero e transexual" se alguém é uma pessoa homossexual e/ou feminista "bem-informada".
Essa postura causa uma confusão profunda entre novas garotas transexuais MtF, que se acostumam a ser muito livres na forma de pensar (assim que são bastante "feministas"), e entre elas há muitas que são lésbicas dentro do gênero retificado. Os jovens porta-vozes das comunidades gay, lésbica e feminista terão que estender a mão às mulheres TG/TS durante anos para compensar os efeitos duradouros dessa estigmatização do passado.
Em outra frente, muitos líderes do pensamento gay e lésbica tentam "normalizar" a imagem da gente gay e lésbica. Querem que os gays pareçam exatamente como "todos os demais", e querem eliminar os velhos estereotipos de gays "que se pareçam pessoas transgênero". Ao contrário dos ativistas que declararam que Calpernia Addams era um "homem gay", essas pessoas não querem identificar "vítimas trans" como sendo parte da comunidade delas - nem querem absolutamente ser identificados com "pessoas trans". Essa tendência estigmatiza a gente transgênero dentro de setores do coletivo gay, de modo similar ao que os crossdressers heterossexuais estigmatizam aos gays. Miranda Stevens-Miller, uma ativista trans destacada de Chicago tem escrito com eloqüência sobre como essa tendência isola e estigmatiza a gente trans:
Exerto de "O persistente preconceito trans" por Miranda Stevens-Miller Windy City Times, 21 de fevereiro de 2001
" - - - "Participei numa sessão de treinamento para o escritório de oradores do GLSEN. O objetivo era assistir ao vídeo "É Elementar" para professores de escolas primárias. Era a primeira vez que eu tinha visto o filme, que me comoveu pelo modo sensível em que os professores podiam apresentar assuntos homossexuais aos meninos, e pela reação inteligente e aberta dos meninos ao tema.
A única coisa que me incomodou era que o vídeo ignorou tudo que tinha a ver com o gênero. Quando os meninos falavam dos estereotipos que tinham dos gays ou lésbicas, a expressão de gênero era um dos conceitos mais comentados. Estereotipos como "toda a gente gay são crossdressers", ou "todas as lésbicas têm penteados masculinos" eram comuns. O telespectador tinha que deduzir por si mesmo que esses são apenas estereotipos ridículos, e que a gente gay e lésbica absolutamente não é assim. Mas ao dizer o que o coletivo gay e lesbiana não é, ficou marginalizado outro setor do coletivo, a comunidade transgênero, e a tem deixado ainda mais estigmatizada.
Que pensaria um menino ou menina transgênero se lhe dizem que está bom ser gay ou lésbica, mas não está bom ter uma identidade de gênero cruzado? Inclusive se não lhe diz isso tão diretamente, pode se sentir ainda mais confuso e isolado porque a identidade dele não figura no debate. Porque é que alguém tem que marginalizar o comportamento de gênero variante para poder conseguir uma auto-aceitação da identidade gay? Porque tem que substituir transfóbia internalizada por homofóbia internalizada?
Como sócios da comunidade LGBT enviamos uma mensagem errada a todo o mundo desde meninos nas escolas primárias até representantes no Congresso. Desde que a comunidade tenha uma atitude de "nós contra eles" referente à orientação sexual e a expressão ou a identidade de gênero, então -- o mundo sentirá que é perfeitamente aceitável discriminar inclusive contra os membros mais respeitáveis da comunidade transgênero ou variante de gênero.
O primeiro passo é deixar de se definir fazendo referência ao que não é. E isto é de gume duplo. Se é um homem gay, não contribui nada dizer "Sou gay mas pelo menos não me travisto". E se é crossdresser, deixe de dizer "Pelo menos não sou gay". Todos temos nossas diferências, mas até que podamos nos olhar de frente e reconhecer os laços comuns de humanidade que nos unem, vai ser muito difícil convencer o mundo não gay e não trans que todos merecemos o mismo respeito e direitos de viver livres de discriminação." |
Assim podemos ver que as pessoas trans muitas vezes são uma fonte de "vergonha e incomodidade" para gays e lésbicas porque reforçamos velhos estereotipos na mentalidade pública, estereotipos que o movimento homossexual está tentando apagar. Ademais, muitos dos líderes de pensamento deles têm promovido uma transfóbia definitiva entre círculos gay, lésbicas e feministas. Por outro lado, quando somos vítimas de crimes de ódio, nos abraçam e mesmo os ativistas gay muitas vezes nos etiquetam como "gays" como parte do trabalho de encher as arcas com doações. Parece que muitos gays, lésbicas e feministas maiores têm sentimentos extranhamente confusos sobre a gente trans, e teremos de esperar a chegada de uma nova geração para que se produça um verdadeira mudança.
Felizmente existem indícios de que algumas destas mudanças tão adiadas já estão ocorrendo. O National Center for Transgender Equality (NCTE), (Centro Nacional para a Igualdade Transgênero) e a National Transgender Advocacy Coalition (NTAC), (Coalizão Nacional de Advocacia Transgênero) agorinha são as organizações em primeiro plano da luta pelos direitos humanos para pessoas transgênero. A NTAC tem adiantado muito no apoio de novas leis nas maiores cidades dos Estados Unidos, coordenando os esforços com algumas organizações pró-direitos gay. Vários grupos pró-direitos gay tais como a Gay and Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD), (Coalizão Gay e Lésbica contra a Discriminação) e a Human Rights Campaign, (Campanha para Direitos Humanos) têm começado por fim a articular políticas de apoio a direitos TG/TS, e fornecem a NTAC muita assistência tão necessitada para acabar com a discriminação contra gente TG/TS.
Ademais, o National Center for Lesbian Rights (NCLR), (Centro Nacional para Direitos Lésbicas) em San Francisco, uma nova força na luta para assegurar plenos direitos legais, sociais, de emprego e de família para mulheres lésbicas, tem trabalhado também em vários processos legais, altamente importantes, que têm de ver com os direitos das pessoas transgênero. O NCLR tem reunido muitos talentos legais para enfrentar esses problemas, e estão chegando a ter um efeito.
Este poderoso apoio para os direitos legais das pessoas trans por parte dos advogados pragmáticos e socialmente dedicados de NCLR (que por casualidade são quase todas lésbicas) é o avançado de uma nova onda de cooperação GLBT para resolver os verdadeiros problemas do mundo real, e contrasta muito com as teorias condescendentes e a estigmatização das pessoas trans no passado por parte de transfóbicos como Frank, Fouratt, Greer e Raymond.
Os adolescentes transgênero que fogem ou que são expulsados da casa:
Apesar de que têm melhorado muito nas últimas décadas as opções para tratar condições TG e TS, uma transição está na maior parte mais disponível para pessoas com algum tipo de vantagem social, de educação, ou financeira.
Em paralelo com todos os avanços da tecnologia médica, e em paralelo com as dezenas de milhares de transições de gênero sucedidas, uma tragédia incrível aconteceu nas últimas décadas. Por causa da ignorância das várias condições transgênero que existem, milhares e milhares de adolescentes transgênero e transexuais tem sido expulsados pelas famílias. Cada ano muitos desses adolescentes estão obrigados a fugir de casa, ou são literalmente jogados à rua pelas famílias. Uma alta porcentagem desses adolescentes são hispano-americanos ou afro-americanos já que essas comunidades são ainda mais homofóbicas do que a comunidade branca, e muitas vezes pensam erradamente que os filhos são "escandalosamente gay". A muitos adolescentes trans, inclusive a alguns de classe média, as famílias dão passagens de avião de ida só a Los Angeles ou a Nova York e lhes dizem, "não volte jamais a casa".
Esses adolescentes não são gay, e assim não se encaixam na comunidade gay nem recebem aí a bem-vinda. Com poucas esperanças de obter uma identificação adequada nem emprego normal no gênero ao que desejam transicionar, de nenhum jeito podem pagar um orientador nem o custo de saúde básico, muito menos economizar o suficiente para uma transição de gênero completa. O único que a maioria podem esperar é obter um pouco de alívio emocional e algum grau de modificação do corpo por meio de terapia de estrogênio (comprando hormônios no mercado informal) e uma transição social, e logo após viver como um travesti.
Muitos dessas garotas que foram expulsadas ou que fugiram acabam vivendo uma vida de prostituição e degradação nas ruas noturnas dos bairros perigosos das grandes cidades - o mesmo que têm feito as mulheres abandonadas ao longo da história humana que não têm família nem dinheiro nem a possibilidade de emprego. A alta visibilidade dessas prostitutas TG/TS nas ruas dos barrios baixos deu lugar ao “mito urbano” de que todas as mulheres transgênero e transexual são prostitutas. E a vulnerabilidade delas geralmente é o fator que as torna vítimas de assédio e de crimes de ódio.
A idéia de que um "homem" possa tomar estrogênio para logo se vestir de mulher e se converter em uma prostituta travesti parece a muita gente uma descida à degradação total. Inclusive muitas mulheres TG, pelo menos as que têm bom emprego e conseguiram uma vida normal, menosprezam as garotas da rua - pensando que o que fazem elas é asqueroso e que "dá a todas as mulheres TG uma má reputação". No entanto, se faz um esforço para ver o mundo pelos olhos de uma mulher nova TG/TS sem possibilidade de empego, e que vive na rua, verá que ser prostituta travesti não lhe pareça uma degradação em absoluto.
Para muitas jovens TG/TS, poder seduzir um homem heterossexual para que a deseje sexualmente e pague favores sexuais é uma afirmação muito poderosa do valor e do estado feminino e leva muitas recompensas. Com o dinheiro que podem ganhar podem comprar roupa bonita, mais hormônios e podem se fazer ainda mais atraentes para os homens. Não é em absoluto sorpreendente que muitas garotas TS da rua, que não têm identificação válida, que não podem encontrar trabalho nem alojamento adequado e que não podem sair normalmente com rapazes heterossexuales, se prostituam. Para informação mais a fundo sobre esta situação, veja o artigo de Kyle Scanlon sobre este tema (em inglês). Veja também o artigo recente do Boston Globe sobre prostituição transgênero em Boston (em inglês), para aprender porque estas jovens se envolvem na prostituição e se expõem aos muitos perigos de saúde como resultado. Abaixo está um exerto do artigo:
'''Muitas pessoas [transgênero] procuram a validade do parceiro sexual. Se ele é o único que diz, `Te vejo como é; é uma garota, é uma mulher,' isto é intensamente importante,'' disse Grace Sterling Stowell, uma mulher transgênero, diretora executiva da Coalizão da Juventude Gay, Lésbica, Bissexual e Transgênero de Boston. Tinoyia está de acordo: ''Nos fizeram sentir completas tal como nos queriamos sentir.'' |
Sem que se entenda a realidade de que essas são garotas que procuram desesperadamente qualquer tipo de afirmação social como mulheres - inclusive quando só a conseguirem pela prostituição – não é possível entender como se sentem e porque fazem o que fazem. Então se pode vê-las não como "rapazes pervertidos" mas pelo contrário como "garotas que trabalham" tentando sobreviver e encontrar um lugar na sociedade da única maneira possível para elas.
Algumas das mais atraentes travestis conseguem se elevar por trabalhar como "prostitutas de alta classe" bem-pagadas, e muitas vezes oferecem serviços pela internet. Essas mulheres geralmente estão bastante avançadas na terapia de hormônios femininos, têm completado uma transição TG e vivem de tempo completo como mulheres. Muitas têm se submetido a algum tipo de cirurgia cosmética como aumento de busto, e algumas terão se submetido à cirurgia de feminização do rosto (CFF, em Português). Há uma enorme presença na internet destas garotas-T e travestis de todo o mundo. Os clientes dessas garotas geralmente são homens heterossexuais, não homossexuais.
Podemos ver a beleza de algumas dessas garotas, e o mundo em que vivem ao visitar sites de garotas-T e travestis "acompanhantes" tais como Sun Moon and Stars Transsexual Top 100 e Shemales Amateurs around the WWWorld. (ADVERTÊNCIA: Grande parte do material que se encontra nesses sites é altamente pornográfica). Apesar de que essas garotas tenham genitais masculinos, os corpos delas são de mulheres impressionantemente bonitas e sexy. Muitos homens heterossexuais têm uma atração muito forte para as bonitas travestis - pelo menos enquanto estas são jovens, é dizer antes de que a beleza comece a decair, ao longo prazo, sob a influência da testosterona e do envelhecimento.
Mesmo que não têm identificação correta nem história de emprego e de que não podem conseguir trabalho, algumas das jovens travestis mais bonitas podem ganhar o suficiente como prostitutas e acompanhantes para pagar todos os tratamentos e a cirurgia para poder conseguir uma transição completa. Porém, inclusive para elas é uma luta contra o tempo e contra a hormonização masculina enquanto tentam ganhar o suficiente para corrigir o gênero em um mundo perigoso antes que comecem a perder a atração sexual.
Tristemente é um mundo perigoso lá fora para essas garotas. Umas poucas delas têm sucesso, mas muitas não -- como no caso de Amanda Milan, uma linda jovem "acompanhante" transgênero que foi matado a surras numa rua de Nova York enquanto os passantes aplaudiam o brutal homem que a assaltou.
As flores comemorativas na calçada para Amanda Milan
A confusáo contínua entre ser TG/TS e "ser gay" significa que a sociedade não tem prestado muita atenção ao fenômeno extendido das "travestis da rua". Ainda pior, enquanto o AIDS tem começado a se extender por esta comunidade em uma epidemia distinta e separada da do coletivo gay, as confusões sociais sobre as travestis da rua mascararam uma emergência de saúde pública e incontáveis tragédias (veja o artigo recente de Salon.com (em inglês) "Uma praga não detectada" e também o artigo recente no Boston Globe sobre este problema (em inglês)).
Responsáveis da saúde pública por fim começaram a fazer caso destes adolescentes. Em 1999 A Associação Americana de Saúde Pública (American Public Health Association), APHA, emitiu uma declaração importante de política pública em um esforço de alertar a comunidade médica aos problemas da juventude transgênero. Para mais informação a fundo sobre esta situação, veja os artigos IJT sobre "Comportamento de risco de VIH dos transgênero homem-a-mulher em um programa comunitário de redução de dano" (em inglês), e "Prevenção e necessidades de serviços de saúde da comunidade transgênero em San Francisco" (em inglês).
Enquanto estes problemas se voltaram mais visíveis, algumas cidades como San Francisco começaram a dar terapia de hormônios gratuita, ajuda para conseguir papéis no gênero correto, conselhos de emprego e conselhos sobre AIDS e sexo seguro a jovens travestis da rua. (Veja por exemplo o site Web da Clínica Transgênero do Departamento de Saúde Pública de San Francisco). Estes serviços são orientados a ajudar estes adolescentes para minimizar o uso repetido de seringas para as injeções de hormônios, a evitar sexo não protegido e reduzir a dependência da prostituição. Com este tipo de ajuda básica, enquanto ainda são jovens, estes adolescentes podem ter vidas mais seguras e melhorar a chance de poder conseguir algum emprego e finalmente completar transições TG ou TS com sucesso.
As dificuldades que enfrentam os travestis da rua são bem-conhecidas por muitos adolescentes trans, que escondem a condição transgênero para evitar que sejam jogados à rua. Porém, estes adolescentes sofrem também. Adiam o momento em que procuram ajuda por medo de que sejam jogados da casa, e muitas vezes esperam muitos anos antes de tentar a transição. Por este adiamento em começar a usar hormônios, geralmente sofrem uma masculinização extensa sob os efeitos de testosterona - efeitos que serão difíceis, e em muitos casos imposíveis, de apagar.
Espera-se que, enquanto o entendimento da sociedade destas condições e das opções que existem para corrigi-las aumente, mais adolescentes poderão revelar aos pais a condição de ser transgênero e encontrar ajuda enquanto ainda são jovens.
Os adolescentes transgénero que recebem o apoio das famílias:
Em muitos casos, a família o aceitará e tentará ajudar um menino ou adolescente transgênero. À medida que a sociedade vem sendo mais informada sobre o transgenerismo e o transexualismo, cada vez mais famílias aprenderão sobre estas condições, e não estarão tão inclinadas a expulsar da casa os adolescentes TG/TS. Também é cada vez mais fácil para famílias encontrar bons conselheiros e ajuda médica para rapazes que tal vez tenham que fazer uma transição. Como resultado muitos adolescentes transgênero já têm a possibilidade de efetuar uma transição, inclusive os de famílias modestas - se contam com a ajuda familiar. Como veremos na Seção II, encontrar ajuda cedo na vida pode conferir vantagens enormes aos adolescentes transgênero e transexual.
Há um livro maravilhoso para adolescentes TS (homem para mulher) e os pais deles, Mamãe, preciso ser uma garota, que conta a história da transição de uma adolescente com a ajuda da mãe dela. O livro nos conta como a mãe de Danielle lhe ajudou a se orientar no laberinto de dificuldades às quais têm que enfrentar tais adolescentes, sobretudo na hora de tratar com as escolas e outras autoridades para fazer mais fácil uma transição. Embora atualmente este pequeno livro está esgotado, se pode lê-lo no site de Lynn pelo link seguinte:
em inglês, em deutsch, em espanhol, em francés, em português
Na Seção-II: Transexualismo (Pt), veremos muitas outras garotas novas TG/TS que foram ajudadas pelas famílias e beneficiaram de poder transicionar cedo na vida. Se pode encontrar ainda mais histórias de garotas TS que receberam a ajuda das famílias durante transições cedas na página Sucessos TS (Pt) de Lynn. Todas estas histórias devem dar esperança a adolescentes transgênero e as famílias delas.
Os resultados terríveis de tal violência se relatam muito freqüentemente na prensa, como na história de Gwen Araujo. Gwen era uma adolescente hispano-americana de 17 anos de Newark, California que esperava se converter em uma garota algum dia através da SRS. Tinha vivido como uma garota durante vários anos com o acordo completo da mãe dela e com o tempo é muito provável que teria alcançado este sonho. Porém, enquanto assistia uma festa no outubro de 2002, vários homens novos, brutais e violentos descobriram o estado de gênero dela e imediatamente a espancaram e a esganaram com uma corda até matá-la enquanto olhavam os demais convidados. Este assassinato trágico comoveu a gente da região progressista da bahia de San Francisco e fez óbvios mais uma vez os perigos que têm de enfrentar muitos adolescentes. (Infelizamente muitos das reportagens da mídia referiram a Gwen como “Eddie” e “ele” ignorando e negando a identidade transgênero dela como uma garota).
Gwen Araujo com Arianna, a sobrinha dela.
O fundamental é que os adolescentes novos podem fazer as transições com a ajuda e a aceitação dos pais. Porém, tanto eles quanto os pais têm que ser muito cautelosos a respeito dos amigos que se ganhem, com quem socializem e compartilhem informação. Sobretudo têm que ter muito cuidado de evitar encontros arriscados com parceiros e grupos de rapazes novos potencialmente transfóbicos. Para ter uma melhor visão do problema tão extensivo de violência e crimes de ódio contra gente transgênero, por favor veja o site Web de Gwendolyn Anne Smith "Lembrando nossos falecidos".
Os esforços para extender toda a proteção dos direitos humanos à gente transgênero:
Em resposta, várias cidades e dois estados (Minnesota e Rhode Island) dos Estados Unidos têm ampliado a proteção anti-discriminatória para incluir os transgênero. Para um mapa e uma lista das jurisdições que concedem tal proteção, veja o site Web do Instituto Transgênero de Lei e Política (em inglês)
A mudança mais recente e significativo na proteção legal se fez na cidade de Nova York o 30 de abril de 2002 quando o prefeito Michael Bloomberg assinou uma lei que extende a proteção de direitos humanos da cidade de Nova York a toda a gente variante de gênero, incluindo aos crossdressers, Rainhas Drag e transexuais que se submeteram à cirurgia de redesignação de sexo, ou que logo o farão. Um editorial do New York Times o 1 de maio de 2002 (em inglês) disse que "a nova lei, que foi aprovada pela câmara municipal de 45 a 5 é um importante passo adiante na luta contra os preconceitos e para proteger os direitos de alguns dos cidadãos mais vulneráveis." Para mais informação a fundo sobre esta nova lei, veja o artigo de Planet Out "Proteção transgênero de Nova York" (em inglês). Veja também o site Web NYAGRA e a recente comunicação (em inglês) sobre a Lei Transgênero do Instituto de Política para informação sobre a campanha dos ativistas que trabalharam em apoio da aprovação desta nova lei.
Desde então o 2002 se converteu no ano de mudança para direitos transgênero: depois da aprovação da nova lei de Nova York, as cidades de Dallas, Philadelphia, Boston e Chicago modificaram os códigos municipais para extender proteção similar à gente transgênero. Os precedentes que têm estabelecido estas grandes cidades terão um efeito marcada sobre as políticas de muitas outras grandes cidades dos Estados Unidos nos anos que vêm.
Um esboço das diferenças das situações da gente TG e TS em vários países:
As páginas de Lynn estão escritas desde a perspectiva de alguém que vive e transiciona nos Estados Unidos. No entanto, o transexualismo e o transgenerismo sempre têm sido fenômenos internacionais. Garotas de todo o mundo sempre olharam por fora das fronteiras nacionais para escapar das armadilhas de gênero em que se encontraram. Cada país sempre deu um ênfasis diferente na maneira em que tratou as pessoas TG/TS, e as pessoas que transicionam muitas vezes podem encontrar vantagens de serviços médicos, emprego ou cidanania por sair para outro país. Lynn mesma teve que sair dos Estados Unidos para a cirurgia de redesignação de sexo em 1968, durante uma época quando não permitiam essas cirurgias aqui.
Podemos ter uma vista das variações enormes de um país a outro, fazendo umas comparações mais básicas de (i) como fácil é aceder ao tratamento, (ii) quem paga o custo do tratamento, (iii) as respostas sociais à condição de TS /TG, (iv) o grau de reconhecimento da mulher depois da transição, (v) o estado legal antes/depois da transição, (vi) variações na liberdade de "começar uma nova vida" e (vii) acesso a emprego antes, durante e depois da transição. Para um esboço destas comparações, veja a página de Lynn sobre a vida de gente TG/TS em diversos países do mundo:
For a sketch of country-to-country comparisons of TG/TS life in different countries around the world, see Lynn's page:
CONDIÇÕES PARA MULHERES TG/TS EM DIFERENTES PAÍSES DE CADA PARTE DO MUNDO (Pt)
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Porém, quando dirigimos a vista para os países mais avançados, vemos condições cada vez melhores para transições de gênero, assim que a mulher não fique isolada em guetos nem fique condenada ao ostracismo durante a transição. Nos países mais avançados vemos oportunidades cada vez melhores para emprego e inclusive para ter uma vida normal depois da transição. Espera-se que muitas das melhoras que já se fazem nos países avançados servem de exemplo para conseguir rápidos avanços nos países menos desenvolvidos, sobretudo pela influência dos meios de comunicação.
Pode-se arranhar as grandes diferenças que existem nos diferentes países ao comparar as distintas histórias na Página de Lynn de sucessos de mulheres TS (Pt) que inclui mulheres de todas partes do mundo.
O poderoso papel que desempenha a Internet para ajudar as pessoas transgênero e transexual:
A internet é utilizada por pessoas de cada parte do espectro transgênero. É utilizada muito pelos crossdressers para comprar roupa, criar clubes e organizar eventos sociais e mostrar fotos das atividades. Utiliza-se muito também pelas garotas intensamente TS e TG para se informar das opções para resolver a condição de gênero delas, aprender como enfrentar uma transição TG ou TS, e se informar sobre as detalhes dos tratamentos e a cirurgia que implica.
A Internet abre a porta a um período mais humano no tratamento das condições TG, sobretudo quando mais jovens começam a entender sua situação e procuram ajuda cedo na vida. Há uma série ampla de sites de informação aos quais esses rapazes novos podem recorrer em procura de ajuda, incluindo muitos que são recursos chaves para a comunidade TG/TS. Veja a página de Lynn de Recursos para a Mulher TS e a página de vínculos TG/TS/IS para exemplos de sites de informações importantes.
Muitas pessoas TG/TS colocam histórias e outra informações pessoais na internet. Isso se converteu numa maneira clássica de compartilhar histórias com outros e começar a encontrar novos amigos TG/TS. Muitas pessoas que estão transicionando "já saem do armário" ante a família e os amigos através de um site que têm construido. Podem contar sua história e fornecer links a livros de consulta sem ter que repetir cada detalhe pessoalmente con cada amigo ou parente. Muitas pessoas que estão transicionando só saem do armário “virtualmente" na internet, utilizando um pseudônimo ou só o nome sem apelido para comunicar com outros na Internet. Desse modo podem guardar a privacidade e ainda contar histórias abertamente e inclusive incluir fotos nos sites Web.
Abaixo estão alguns exemplos de sites CD/TG/TS que abrem uma janela a essa atividade (veja os icones abaixo):
ABGender.com é um recurso e uma guia de compras muito popular para crossdressers e mulheres transexuais. O site de Vicki Rene, "as mais bonitas das bonitas" mostra muitos exemplos das fotos que tiram os crossdressers, e muitos links a páginas de pessoas TG e TS. As listas extensas de sites Web tais como "Fantasilândia de Fiona", O diretório TV/CD/TS/TG de Susana Marques, e o diretório transgênero URNotAlone (não está sozinha) contêm milhares e milhares de links aos sites Web de crossdressers e mulheres TG/TS de todo o mundo. Embora esses sites listem sobretudo crossdressers, também incluem muitas TG transicionadas e travestis, e um número pequeno de mulheres TS pós-operadas, e nos dão uma visão importante sobre a situação das pessoas crossdresser/TG/TS. Vai se dar conta que o número de pessoas em cada categoria desses diretórios está na mesma proporção aproximada à freqüência delas na população total (é dizer que em vários centenas de crossdressers haverá uma dezena de mulheres que têm transicionado ou que estão a ponto de fazê-lo e duas ou três mulheres TS pós-operadas).
O maravilhoso site de Lorna Lynn, Um Sonho de uma Noite de Verão (Midsummer Night's Dream, em inglês) contem mais histórias detalhadas e fotos de mulheres TG e TS interessantes. Também há muitos listas de e-mail e foros que servem como grupos de apoio informais para muitos participantes, e um bom exemplo disso é o site de apoio à transição TG/TS Começando a vida (Beginning Life, em inglês).
Alguns sites populares que fornecem uma visão sobre o mundo enorme da atividade crossdresser/TG/TS na internet (todos em inglês, Entre em contato com a Lynn para lhe comentar de qualquer site em português que acha que deve incluir):
Como resultado de toda esta atividade na internet vemos um rápido aumento na auto-confiança da comunidade TG. O número enorme de sites aí está animando cada vez mais garotas trans a não se sentir tão sozinhas e tão vergonhadas da natureza interior. A Internet lhes fornece uma maneira de começar a explorar os assuntos de gênero, encontrar informação útil e procurar amigos com quem podem compartilhar experiências.
Por meio da Internet a comunidade TG muito dispersa encontrou a maneira de se unir e promover mudanças legislativos, com resultados dramáticos nos últimos anos – o que inclui ter convencido muitas grandes cidades americanas a promulgar leis que protegem os direitos das pessoas TG/TS.
A internet ajuda este movimento por colocar uma imagem mais realista à condição TG/TS, e ajuda a neutralizar os velhos estereotipos. As pessoas TG e TS por fim começam a controlar seus próprios destinos. Tal vez o mais importante é que estamos "encontrando nossa voz" e falando por nós. Um elevado número de nós estamos contando nossas histórias em vez de nos esconder a maior parte do tempo, deixando que outros "falem por nós". (Alguns bons exemplos de "falar por nós" e "ser visíveis" são as muitas mulheres TS que transicionaram com sucesso da página de Lynn Mulheres TS de sucesso (Pt)).
O gênero é a característica básica de identificação de cada ser humano. Estar forçado a se encaixar num papel de gênero estrito e a expressar o gênero de forma muito restrita causa muito sofrimento nas pessoas transgênero. Estar forçado a crescer e viver num corpo e papel social do gênero incorreto é uma experiência especialmente horrível para os meninos transexuais. Essas situações podem conduzir a uma desorientação intensa e muita angústia, e podem impossibilitar encontrar alguns das satisfações mais grandes da vida como fazer o amor ou encontrar um parceiro sexual. Felizmente a sociedade (pelo menos no mundo moderno ocidental) faz mais fácil que as pessoas transgênero possam explorar oportunidades mais amplas para expressar o gênero, e muitas opções socias, médicas e cirúrgicas já estão disponíveis para o diagnóstico, tratamento e correção das condições TG TS.
Porém, a assistência socio-psicológica prática, a ciência e a tecnologia médica muitas vezes avançam enquanto as instituições religiosas, políticas, legais e sociais permanecem atrasadas. As famílias de rapazes transgênero os seguem expulsando à rua. Pessoas transgênero e transexual são muitas vezes vergonhadas e são estigmatizadas simplesmente por tentar corrigir a aflição, e nossa sociedade tende a maginalizar e estigmatizar essas pessoas, inclusive depois da transição social, ou inclusive depois da transição de gênero física completa.
No decorrer do tempo, a ciência descobrirá as causas do transgenerismo e o transexualismo. É provável que a evidência que temos agora que sugere que a identidade de gênero se determine antes do nascimento será mais concretamente sustentada por novas pesquisas. Ao mesmo tempo, melhoras na tecnologia médica e a rápida propagação de opções de tratamento através da internet permitirão pouco a pouco melhores abordagens às condições TG/TS do que as que dispomos hoje em dia. Com um melhor entendimento de todas as opções de tratamento de condições TG/TS, e enquanto a tecnologia médica melhora os resultados, é inevitável que a sociedade terá que mudar de atitude a respeito de um tratamento mais compassivo dos transgênero, sobretudo dos meninos transgênero. Para uma discussão mais ampla dos assuntos de adolescentes transexuais, veja o artigo de 28 de agosto de 1999 intitulado "Transexuais adolescentes: Quando têm os meninos o direito de decidir o gênero?"
Diagnósticos e transições cedas produziriam muito melhores adaptações e correções de gênero para meninos TG/TS homem para mulher, posto que os efeitos da masculinização se poderiam evitar nesses meninos que têm que fazer uma transição. Também haveria mais tempo para que possam viver uma vida completa, para desfrutar plenamente do novo corpo, e ter a oportunidade de encontrar um parceiro. Espera-se que chegará o momento em que os meninos transgênero e transexual terão a oportunidade de se informar sobre as opções médicas quando ainda novos, e poderão procurar assistência socio-psicológica e ajuda médica sem ter medo da rejeição dos pais ou da sociedade. Espera-se que mais jurisdições extenderão todos os direitos humanos a todas as pessoas transgênero para que tenham oportunidades de encontrar emprego, alojamento e poderão aceder aos serviços públicos como qualquer outro cidadão.
Continue à seguinte seção: (em português)
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SJ translation of 5-30-06
[LC posting 6-02-06]
A página pessoal de Lynn (em português)