A Gama Ampla de Pessoas Transgênero e as Palavras que se Usam para Descrevê-las

 

[Uma página suplementar da página Informações Básicas TG/TS/IS (Pt), por Lynn Conway]

[V 3-28-06]

Traduzido por Sônia John

 

 

Expressam-se os sentimentos e emoções inerentes de variação de gênero de muitas maneiras diferentes em várias culturas, dependendo dos papéis de gênero disponíveis às pessoas transgênero de cada cultura.  Muitas vezes se usam palavras diferentes para descrever os “tipos” de pessoas transgênero que reconhece cada cultura e para se referir à maneira em que se mostra a variação.  Esses “tipos” variam bastante de cultura em cultura, e evoluem com o decorrer do tempo.  Para informações e exemplos de muitas culturas, veja os links abaixo.

 

Exemplos dos países e culturas da fala inglesa:
 

No início do século XX, a palavra transvestite surgiu em inglês para descrever qualquer pessoa que vestia a roupa do sexo oposto, sem respeito dos motivos de fazê-lo.  Outra palavra, transsexual, tardou outros cinqüenta anos em aparecer, para descrever as pessoas nascidas homens que se aproveitaram de avanços tecnológicos (quer dizer, médicos) para “mudar de sexo” e viver como mulheres.  Recentemente o inglês diferenciou outros grupos variantes de gênero com mais outros nomes descritivos, e foi estabelecido o sentido generalizado do termo “transgênero” para abranger muitos desses grupos.

 

A confusão freqüente entre a variação de gênero e a orientação sexual se reflete nos idiomas por todas partes.  Apesar de que a palavra transvestite se incorporou pouco a pouco ao inglês, a maioria das pessoas continuava a se referir às pessoas transgênero por uma das várias palavras que queriam dizer homossexual.  Já que se consideravam párias ou piores tanto as pessoas transgênero quanto os homossexuais, a maioria dessas palavras era extremamente pejorativa.

 

A terminologia inglesa também mudou às vezes por razões políticas.  No inglês quase deixamos de usar a palavra transvestite porque chegou a ser estrictamente associada pelo público com a idéia de algum distúrbio sexual ou doença mental, o que é um vestígio de abordagens antiquadas e victorianas da profissão psiquiátrica relativo ao tema.

 

Hoje em dia é muito mais comum que se ouve a palavra crossdresser em vez de transvestite para se referir às pessoas que vestem a roupa do sexo oposto.  Embora crossdresser tem um significado literal similar ao de transvestite, leva menos estigmatização simplesmente porque é uma palavra nova sem as conotações negativas do passado.

 

Aos finais do século XX, a palavra “transgênero” chegou a ser usada cada vez mais para se referir a todas as pessoas que de alguma maneira variam de gênero (inclusive alguns crossdressers), e rapidamente substituiu a palavra transvestite usada anteriormente.

 

Um exemplo de problemas de comunicação e tradução através de idiomas e culturas:

 

O uso histórico durante muito tempo da palavra inglesa transvestite dificulta a meta de se comunicar e traduzir através das fronteiras idiomáticas, porque se confunde facilmente essa palavra com “travesti”, que se usa em muitos idiomas românicos (como espanhol, português, italiano, etc.).

 

Nos mundos de fala portuguesa e espanhola, tem-se usada a palavra “travesti” historicamente para se referir aos homens variantes de gênero, do modo similar que se usou durante tanto tempo a palavra transvestite no mundo de fala inglesa.  No entanto, “travesti” tem um significado bem diferente do que tem transvestite em inglês. 

 

Em vez de se referir a crossdressers heterossexuais (transvestites), a palavra “travesti” se refere aos transicionistas jovens que sentem atração sexual para os homens, mudam parcialmente de papel de gênero, feminilizam seus corpos (em geral sem se submeter à cirurgia genital) e históricamente têm trabalhado no comércio sexual.  Assim é que se traduz melhor para o inglês a palavra travesti como “she-male”, embora em inglês essa palavra tem uma conotação negativa.

 

Para mais informações, veja a seção sobre os travestis na página de Lynn Informações Básicas TG/TS/IS (Pt).  Enquanto isso, a complexidade e a confusão que produzem só essas três palavras (transvestite, crossdresser e travesti) expõe bem as grandes dificuldades de comunicar sobre o tema de variação de gênero através de culturas e idiomas.

 

Refletindo sobre o Quadro Completo:

 

Também é importante levar em conta que, a pesar do número e dos tipos de variação de gênero que uma sociedade reconhece num momento dado, as categorias raras vezes definem precisamente grupos homogêneos de indivíduos.  A diversidade humana é emais complexa, e em muito, para que seja possível isso.   

 

É melhor conceber que esses grupos têm fronteiras permeáveis, de modo que as pessoas viajem entre as zonas, e fazem o mesmo entre elas e a chamada zona de “normalidade”.  Como no caso da emigração geográfica, o que motiva à pessoa que se mova é bem variada; inclui uma mudança das restrições sociais e económicas, o processo de envelhecimento, uma crise de saúde física e/ou mental, um melhor auto-conhecimento, a disponibilidade de informações educativas, etc.

 

Para as pessoas que sentem a necessidade de explorar sua identidade de gênero, o importante é que disponham de algum tipo de “zona de aterrissagem segura”, onde podem se enquadrar ao início e aprender de si mesmas com certo grau de conforto e segurança, mesmo quando o lugar onde se pousa primeiro não seja o destino final.

 

Devido a essas e muitas outras razões, devemos evitar colocando etiquetas permanentes às pessoas a respeito das suas maneiras de expressar a variação de gênero.  Em vez disso, devemos pensar de tais etiquetas como uma forma de taquigrafia que nos ajuda a nos comunicar sobre as expressões correntes de gênero dentro de culturas específicas.

 

 

Para estudar mais este tema, veja os links seguintes:

 

1.  “Diferenças entre as situações das pessoas TG e TS em vários países do mundo” por Lynn Conway (Pt)

 

2.  “Evidências históricas e interculturais de transexualismo” (Pt) por Lynn Conway (inclui informações sobre as hijras da Índia e Bangladesh)

 

3.  O site TransgenderAsia por Sam Winter

 

4.  A Rede Transgênero de Europa (European Transgender Network/TGEU)

 

 


 

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